A Caminho da Pascoa: Acreditar na Solidariedade, na Partilha é corresponder ao mandato apostolico deixado por Jesus Cristo... somos discipulos e missionarios, chamados a servir ao proximo com caridade, solidariedade e partilha.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

TEOLOGIA DO PLURALISMO RELIGIOSO (2)

Pe. Francisco de Assis Correia

A Teologia do Pluralismo é um avanço, uma evolução, com vários níveis.
Vai além do diálogo inter-religioso.
Para Vigil, “uma coisa é refletir sobre a pluralidade religiosa (“ Teologia do Pluralismo Religioso”) e outra, dialogar mesmo com outra religião. Sem a transformação de mentalidade, que essa reflexão vai provocar, não será possível “dialogar” verdadeiramente com outra religião, porque será um diálogo de surdos, aparente diálogo daqueles que pensam – cada um – que eles têm a verdade e que o outro não é interlocutor religioso válido. Por isso nós dizemos que a teologia do diálogo inter-religioso é um “intradiálogo”, um diálogo que uma religião deve fazer consigo mesma antes de dialogar com outra, para que o diálogo possa ser viável e frutífero”.
O teólogo Vigil estabeleceu, ainda, algumas condições para que as religiões possam construir juntas a paz no mundo: abandonar o complexo de superioridade ( “a minha é a única verdadeira”), deixar as pretensões de “unicidade” (“a minha é a única”), “retirar o mapa teológico geocêntrico” que as punha no centro do mundo religioso, e devem aceitar um novo mapa teológico “heliocêntrico”, com só Deus no centro e elas, todas as religiões, girando soralmente companheiras ao serviço da humanidade para aquilo que tem a ver com a relação com o mistério divino”; devem atualizar sua epistemologia; superar o “modelo de verdade” objetivista, metafísico, fixista, de verdades eternas “claras e distintas”; reconstruir a “outra religião possível”; e uma visão pluralista...
José María Vigil insiste na tese de que “não haverá paz no mundo sem teologia do pluralismo religioso”.
Para ele, paz não é só ausência de guerra. “é o resumo de todos os bens salvífecos”. É o “shalon” (judaico) e o “shalan” (árabe).
Supera, também, uma visão antropocêntrica religiosa, na qual fomos educados: “o bem comum da humanidade ficaria absolutamente curto e mal entendido se deixasse de buscar o bem comum da vida no planeta. (...) Hoje a caridade realista deveria começar pelo planeta. (...) Como é possível que as religiões ainda não tenham pedido perdão por terem permanecidas cegas ao ecológico?”
Sua tese, igualmente, vai além da de Hans Küng, segundo a qual “não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões”.
Segundo Vigil, Küng ficou no plano ético (“Projeto de Ética Mundial”); a sua posição situa-se no nível teológico.
Resta-nos torcer pelo êxito desta Oficina e aguardar o fruto de seus trabalhos.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

TEOLOGIA DO PLURALISMO RELIGIOSO (1)

Pe. Francisco de Assis Correia

O padre e teólogo José María Vigil, claretiano, como os Padres da Vila Tibério – Ribeirão Preto e Dom Pedro Casaldáliga – espanhol de nascimento, naturalizado nicaragüense e vivendo atualmente no Panamá – recentemente concedeu uma entrevista à THU On-Line, na qual tratou do tema de uma oficina sobre “Religiões e Paz: A visão/teologia necessária para tornar possível uma Aliança de Civilizações e de Religiões para o bem comum da humanidade e a vida do planeta”. Esta oficina fará parte do Fórum Mundial de Teologia e Libertação (FMTL), dentro do Fórum Social Mundial (FSM), que deve acontecer em Dakar, no Senegal, em fevereiro de 2011.
A mencionada Oficina está sendo organizada pela Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro mundo (ASETT/EADWOT), por meio de sua comissão teológica, da qual é responsável, na América Latina, José María Vigil.
Na referida entrevista, ele esclareceu, entre outras coisas, que: “teologia do pluralismo religioso consiste em ‘teologizar’, ou seja, refletir sobre o significado que pode ter o pluralismo religioso, a pluralidade de religiões: por que existem religiões e não só a minha religião em que fui ensinado que era a “única verdadeira”? As outras têm valor? Têm valor por si mesmas ou o recebem da minha? Posso reconhecê-las como válidas, ou tenho que procurar convertê-las? E se posso reconhecê-las, como ficam então a unicidade e “absoluticidade” que a minha religião sempre proclamou? Nessa reflexão toda consiste a teologia do pluralismo religioso”.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

FAZENDA NIAGARA

Pe. Francisco de Assis Correia

O nome, para alguns, lembra as cataratas do Canadá.
Para outros, uvas.
Para mim, é a fazenda
onde moraram meus avós maternos,
meu tios e minhas tias,
o lugar onde morei logo após ter nascido
(nasci na Santa Casa de Jardinópolis),
e ali vivi por cerca de 4 anos.
E, morando na cidade, não havia dia que não ia passar lá,
na casa da avó Maria.
Ela morava numa casa fora da colônia,
perto de um córrego,
de uma mina,
tendo ao seu redor:
laranjeiras, pés de mexerica,
de tangerina, e abacate,
de paineira, de bananeira,
de goiabeira, de jaboticabeira...
Havia horta farta,
galinheiro, paiol...
Não havia dinheiro,
mas nada faltava de comida.
A avó Maria cozinhava muito bem.
Nas festas, no forno de bola,
ao lado da cozinha, ela fazia pães, roscas, bolos,
frangos assados,
leitoa assada.

Durante o ano, a avó fazia lingüiças.
Ficavam dependuradas na despensa.
À vontade.
Ali havia sacos de arroz, de feijão e de outras coisas.
Na venda só se comprava:
sal, azeite, querosene, fósforos para acender as lamparinas e o fogão
(só na década de 60, instalou-se eletricidade nas casas dos colonos!
O mesmo com água encanada e banheiros!), farinha de trigo e algo mais...


Como fui feliz
na fazenda Niagara...

Havia lá, também,
a casa do tio Altino e da tia Helena:
A Mariinha, o Zé Mário, o Luís, a Sidinéia.
Noutra casa:
Tio Pedro e tia Guiomar,
com a Marina, o Pedrinho, o Paulinho, a Sandra, a Ana Helena...

A casa do Sô Rodolfo e da Dª Elvira,
com um monte de filhos e filhas...
E o meu amigo Pérsio.
Dona Elvira, pela manhã, sempre fazia polenta frita na chapa,
para se tomar com leite...
Que gostosura!

A casa da Dª Idelma e do Sô Francisco Leme
(Cumadi Delma e Sô Chico Leme para a minha avó).
Uma penca de filhos...
Muito trabalho, muita horta...
Admirava Dª Idelma, de pé,
comendo na tampa da panela,
aquele sorriso amplo,
gostoso...
Chacoalhava-se toda!
E Sô Chico Leme também.

A casa do Sô Turíbio e da Dª Conceição:
Muitos filhos e filhas.
Eram também compadres dos meus avós.
Admirava neles o mútuo respeito
e a amizade sincera
que durou até o fim da vida,
mais do que se fossem parentes.

As casas, durante muito tempo, não tiveram piso
- eram de terra batida -,
Água encanada, banheiro, muito menos forro...

A casa do Sô Elias Gibaile e de Dª Dalva...
Ele era o fiscal da fazenda.
A casa dele ficava perto do “terreirão”.
Distante da casa do fazendeiro,
cerca de 200 m., se tanto!
Dos filhos, lembro-me mais do Zé Oswaldo,
Colega de escola e amigo.

Ah! Lembro-me, também,
de duas irmãs de Dª Dalva. Não de seus nomes.
Sei que bordavam muito bem!

O terreirão para secar café
parecia-me imenso.
Não era lugar de brincadeira.

Uma vez, justamente nele,
secando o café, meu avô perdeu todo o seu salário!
Quem achou?
Foi um dia de muita tristeza para a família!

De vez enquando, neste mesmo terreirão,
à luz de duas velas,
tendo ao fundo um canteiro de hortênsias,
uma imagem,
tia Beca (Mercedes) rezava o terço seguido por um grupo de senhoras.

Na safra de café,
corriam umas vagonetas.
Iam em trilhos levando café para ser beneficiado.
Iam e voltavam.

Tio Ireneu (irmão de meu pai, por parte de pai)
trabalhava aí.
Fazia de tudo no que se chamava “máquina”.
Ia e voltava de bicicleta:
De sua casa à fazenda,
da fazenda para a sua casa.
Era de pouca conversa o tio Ireneu.

Tio Altino carroçava,
tio Paulinho fazia de tudo,
tio Pedro tratorava,
tia Beca cozinhava na sede,
prôs patrões:
Sô Humberto Pereira Lima e
dona Clarinha (Dona Mariana Clara Ferreira da Rosa Pereira Lima)
que foram pais de: Fernando, Humbertinho, Roberto, Eduardo, Regina, Sérgio e Cândido
(não conheci este último).
E minha família materna toda trabalhou prá eles!
Queria muito bem a eles.
Meu pai – não sei porque –
não gostava deles.
Dizia que Pereira,
não é pau nem madeira!

Quando Clara e eu nascemos (10/10/1944),
Dª Clarinha mandou
que fôssemos amamentados,
além do leite materno,
pela vaca “Riqueza”.
Conheci esta excelente matriz,
de úberes cheios,
e tive por ela gratidão:
à Dª Clarinha, madrinha da Clara e à “Riqueza” pelo nutritivo e saboroso leite.

As uvas “Niagara” eram deliciosas.
O vinhedo ficava abaixo do terreirão,
em frente à “máquina”.
Trancado a cadeado,
nele só entrava o encarregado do mesmo.
Era um édem,
só acessível a poucos.
Mesmo assim,
cheguei a comer delas
como um Baco.

APARECIDA - O MILAGRE

APARECIDA – O MILAGRE

Pe. Francisco de Assis Correia

Lançado em todo Brasil, no dia 17 de dezembro de 2010, o filme Aparecida – O Milagre com direção de Tizuka Yamasaki, com Murilo Rosa, Maria Fernanda Cândido e outros, o filme recebeu críticas e elogios de várias tendências.
Para alguns, o filme encaixa-se dentro de um filão religioso que dá bilheteria e comoção popular; segue os mesmos padrões dos filmes do padre Marcelo Rossi (“Maria, a Mãe do Filho de Deus” – 2003 – e “Irmãos da Fé” – 2004), observando-se que o Pe. Marcelo é “um ícone midiático”, enquanto que Nossa Senhora Aparecida é um “ícone histórico”; porque o filme revela um “vazio de idéias” e “com excesso de clichês, filme vulgariza a fé”; “o catolicismo parece apenas uma religião atrasada”.
Outros viram neste filme uma “resposta católica”, “contra-ataque” aos filmes espíritas “Chico Xavier” e “Nosso Lar” o que é negado pela diretora Tizuka, que começou a tirar o filme do papel há três anos. Aliás, curioso é que a mesma se auto-defina sem religião e “agradeça a Nossa Senhora que a ajudou”, que o produtor do filme Paulo Thiago e sua mulher Gláucia Camargo se definam ateus!
Alguns definem o filme como “um milagre para levar o público às lágrimas”, ou, ainda mais acerbamente: o “milagre” que se espera do filme é o da “bilheteria”!
Para além dessas críticas, observa-se que o filme tem um roteiro e um final que se enquadram dentro do que observam os atuais sociólogos da religião e teólogos voltados para a pastoral: movimentos religiosos atuais, que dão resultado, são os que prometem milagres ou “teologia da prosperidade”.
O seguimento de Jesus Cristo, porém, é bem diferente. Vai na contra-mão...
Isso não dá bilheteria, nem arrasta multidões...
Ser discípulo e missionário é outra coisa... diz o Documento de Aparecida, mas este é outro assunto!

SEM FAZER NADA

SEM FAZER NADA


Etanol?
Não.
Êta Nóis!

Gasolina?
Não.
Insulina!





Pe. Francisco de Assis Correia.

NO TEMPO DO “FOOTING”

NO TEMPO DO “FOOTING”

“Rua Silva Jardim ou silvo em mim?” (Carlos Drummond de Andrade).

Dar volta no jardim,
em Jardinópolis,
ao redor da Matriz,
à noite,
era um grande programa,
aos sábados e domingos,
feriados e dias santos.

Homens de um lado,
mulheres de outro,
em sentido contrário.

Viam-se,
olhavam-se,
piscava-se...

Tudo acertado,
ele e ela paravam.
Uma conversa
e tudo combinado,
ele a levava para a casa.

Começava o namoro.
Noivado.
Casamento!

Tudo era tão simples,
quase ingênuo.

A Rádio Ilha Grande,
ou melhor:
Serviço de Auto-Falante
da Rádio Ilha Grande,
comandada pelo Cleid Costa,
animava o “footing”.

Dava um ar festivo,
com músicas oferecidas ou não
“como prova de muito amor”.

Durante o dia,
servia, também, para noticiar,
aviso de falecimento: “Nota de Falecimento!”
Faleceu, nessa cidade,
o Sr. ou Sra. ...
Benquisto (a) morador (a) local.
O extinto (a) tinha ... anos de idade.
Seu sepultamento será às ...,
saindo o féretro da residência,

à Rua ...,
em direção à necrópole municipal.

À noite,
tudo era vida na praça.
Pena que,
às 21hs,
o som era desligado,
e se desfazia o movimento.
As pessoas se retiravam,
cada uma para a sua casa.
Era gente indo para os quatro pontos cardeais.
Uns iam para o lado da Baixada,
outros para o lado da Curva da Morte.
Uns para o lado da Caixa D’Água,
outros para o lado da Estação.
Eram os referenciais,
de então,
de Jardinópolis.

Melancolicamente a noite acabava,
com a música de
Lamartine Babo
e Francisco Matoso,
cuja letra, entre outras coisas,
confidenciava: “Mas tu não flertastes ninguém
Olhavas só para mim
Vitórias de amor cantei
Mas foi tudo um sonho... acordei”.



Pe. Francisco de Assis Correia.

HORA DA AVE MARIA

HORA DA AVE MARIA


18 h.!
Que tristeza dá-me esta hora!
O radialista anunciava:
“o ponteiro aponta para o infinito”.
Recordando-me disso penso:
Aponta para a tristeza!

Por quê?
Porque, a esta hora,
Já tinha de estar banhado,
E pronto para jantar.
Terminava o dia,
O brinquedo,
A liberdade!
Tinha de jantar,
Não sair pela rua,
Aguardar um pouco a noite,
E dormir antes das 21 h.

Ave Maria!
Até hoje,
Tenho tristeza nesta hora!

Pe. Francisco de Assis Correia

MEU PAI

MEU PAI.

Meu avô ferrava cavalos.
Meu pai, não.
Ferrava rodas de carroça,
carrinho e carrocinha.
Fazia madeiramento,
Currais, mesas simples de madeira.
Sabia cubicar
e se orgulhava disso,
ele que apenas fizera
até o terceiro ano primário.

Como marceneiro,
Ainda muito jovem,
Trabalhou na Usina Junqueira
e de lá trouxe
a doença do barbeiro – Chagas –
que lhe fez viver
apenas meio século e,
coincidentemente,
morreu num salão de barbeiro.
Era 6 de outubro de 1972.


Pe. Francisco de Assis Correia.

HISTORINHAS DA GIOVANNA

PE. FRANCISCO DE ASSIS CORREIA






HISTORINHAS DA GIOVANNA: 4 ANOS

















1. Giovanna só tem 4 anos. É filha de pais separados. Mora com a mãe e com os avós maternos.
Fica com o pai, por cerca de duas horas, às terças feiras e aos sábados ou domingos alternados.
Com o pai brinca de recortar desenhos, pintar e outras formas de entretenimento. Ou seja, o pouco tempo juntos é totalmente ocupado.
Outro dia, quando chegou a hora de guardar os brinquedos para voltar para a casa dos avós maternos, ela perguntou:
- Por que eu tenho de ir embora papai? Por quê?

















2. Quando o pai foi buscá-la, outro dia, a mãe dela falou:
- Papai, a Giovanna está muito desobediente. Não obedece a mamãe, ao vovô e à vovó. Ela precisa ficar de castigo.
O pai falou à filha:
- Filhinha... olha... o papai, lá em casa, tem uma lousa, onde ele anota: se você desobedeceu... ele vai marcando com pontinhos, quantas vezes você desobedeceu... aí, você pode não brincar um dia, outro dia você não vai passear... entendeu?
A Giovanna ficou séria, olhando para o rosto do pai. Entrou no carro, atrás, na sua cadeirinha e quando o carro começou a andar, perguntou, preocupada, a seu pai:
- Papai... onde está a lousa?
O pai, sem graça, mentiu, respondendo:
- Filhinha, o papai deixou a lousa no caminhão...
A menina ficou sossegada e olhou o movimento da rua...
















3. Doutra vez, andando de carro com o pai, esse atravessou a rua com o sinal fechado, vermelho.
Giovanna, sentada na sua cadeirinha, atrás, falou:
- Papai... você fez uma coisa que não pode fazer... você passou com o sinal vermelho... não pode, papai... é perigoso, viu?



























4. Na hora de levar de volta a Giovanna para a casa dos avós maternos, o pai dela procurava a chave do carro e perguntava:
- Pai, você viu a chave do meu carro? O mãe, você não viu onde deixei a chave do carro?
E foi aquela busca...
Quando, enfim, foi encontrada, Giovanna disse:
- Papai... aqui tem muita coisa... precisa jogar fora muita coisa... viu, papai?



























5. Outro dia, ao sair da casa do pai e ao levá-la para a casa dos avós maternos, o pai dela puxou a porta que, raspando o chão, produziu um forte barulho. Giovanna não teve dúvida em dizer:
- Papai precisa passar óleo na porta! O vovô lá em casa passa óleo nas portas, nas janelas...



























6. Em cima do guarda-roupa do pai, havia uma grande bola branca de plástico.
Giovanna:
- Papai... posso brincar com aquela bola de lá de cima?
O pai:
- Filhinha... o papai precisa lavar a bola pra você brincar... ela está toda empoeirada... da próxima vez que você vier... o papai vai lavar a bola... aí... você vai brincar com ela.
Dias depois, quando voltou, Giovanna, ao entrar no quarto, perguntou:
- Papai, você lavou a bola?
O pai:
- Ô filhinha... o pai esqueceu. Vamos lavar agora...

























7. Almoçando com os avós paternos, a avó disse à Giovanna:
- Giovanna... vem um dia, aqui, pra você dormir com a vovó... você vem?
Giovanna:
- Mas eu não trouxe a minha camisola, vovó... ficou lá, na minha casa...





























8. A avó passava pomada no joelho do João Luís e este parecia dormir.
Giovanna dizia, então, à avó:
- Vovó... passa bastante pomada no papai... pra ele dormir bastante, viu!
































9. João Luís saiu com a Giovanna de carro e, logo, ela falou:
- Papai... eu gosto mais do seu carro... eu não gosto do carro do vovô não...
- Por que filhinha?
- Porque o carro do vovô tá sempre sujo... eu não gosto não...





























10. Ao pai:
- Papai... quando eu crescer, eu quero ter um cabelo grande, grande assim...
- E quem vai cuidar do seu cabelo?
- Minha mamãe...



























11. Ela chegou com um cachorrinho de brinquedo, pertinho da vovó.
O cachorrinho, de repente ficou de pé, nas duas patas. A seguir, deu uma cambalhota e continuou andando. A avó levou um tamanho susto e, depois, pôs-se a rir do tal cachorrinho...
Depois de uma volta de carro com seu pai, Giovanna estava visivelmente com sono, grudada ao seu cachorrinho de brinquedo. Seu pai falou para se deitar no banco traseiro. Deitou-se e imediatamente dormiu, abraçada ao seu inseparável cachorrinho de brinquedo. Pena que seu pai não a tenha fotografado!
A primeira cena precisava ser filmada. Esta, segunda, fotografada.

AS VENDAS

No meu tempo de menino, não havia, em Jardinópolis, nenhum supermercado, nenhuma impessoal loja, cheia de funcionários...
Havia, sim, as pessoais vendas, isso mesmo, vendas (de secos e molhados): do “Seu” Nelson Fregonesi, do “Seu” José Staibano, do “Seu” Rufino Leira, do “Seu” Guerino Sisti, do “Seu” José Felipe, do “Seu” Alexandre Saquy, do “Seu” Nicolino Cimento, do “Seu” José Torrecilhas, do “Seu” Jabur...
Depois, muito tempo depois, é que vieram os supermercados. Tão impessoais quanto anônimos...
Antes, era o tempo das cadernetas. Comprava-se e marcava-se. Acertava-se no fim do mês ou quando se podia...
Quando se pagava, recebia-se até um brinde: um pacote de macarrão, uma lata de sardinha...
O comerciante ficava satisfeito e o freguês, gratificado!
Com este sistema alguns venceram e se aposentaram, com dinheiro aplicado e/ou emprestado para particulares a altos juros...
Outros, coitados, faliram. Isso mesmo. Perderam tudo e os devedores nem tomaram consciência do mal que cometeram...
Vieram os supermercados: acabaram-se as cadernetas, os fiados, a confiança, os compadrios e os “agrados” aos fregueses e lá se vão cartões de crédito, os sacos plásticos, a pressa e aquele cheiro, sempre igual, de que quem compra, vive. Quem não compra não existe. É a lei do mercado. A venda morreu!
Pe. Francisco de Assis Correia.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Orgulho - Prosa.

Orgulho.

O padre, ao final de seu panegírico,
disse à sua cominidade:
- Preciso de um alvanel!
Alguém lhe perguntou:
- O que é isso?
Ele respondeu:
- Um albanel!
- Quê?
- Um alvaner!
- Quê?
- Um alvanéu!
- Quê?
- Um alvanir!
- Quê?
- Um alveneiro!
- Quê?
- Um alvenel!
- Quê?
- Um alvener!
- Quê?
- Um alvenéu!
- Quê?
- Um pedreiro, entenderam?
- Prá quê?
- Prá construir uma outra Igreja, porque esta,
esta aqui,
está muito pequena prá mim!

Pe. Francisco de Assis Correia.

Cavaquinho e violão. - Prosa

CAVAQUINO E VIOLÃO
OU
“SÔ” DÉLCIO E “SÔ” ZEQUINHA

Diz a Bíblia que quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro.
Foi o que aconteceu com Sô Délcio e Sô Zequinha. Um dia se encontraram e tornaram-se amigos. Compartilharam o mesmo gosto pela música. Aquele com seu cavaquinho. Este com seu violão.
Hoje, encontram-se com frequência. Passam algumas horas juntos. Tocam um chorinho, conversam particularidades da música, comentam a vida do compositor como se este lhes fosse familiar.
Entre uma música e outra, um dedo de prosa. Cada um fala do sofrimento, da dor e do amor que carregam.
As esposas de um e de outro estão, há anos, doentes. Muito doentes... A do seu Délcio, Dona Maria, sofre de diabetes, perdeu a visão e, agora, está com Alzsheimer... A do seu Zequinha sofre com transtorno mental bilateral, dificuldade de deambular, problemas renais, intestinais, etc, etc.
Um e outro, porém, cuida de suas esposas com todo cuidado, carinho e dedicação. Sacrificam-se por elas.
Sô Délcio para sair de casa, só o faz, se houver alguém de sua absoluta confiança para o substituir por poucas horas.
Sô Zequinha, igualmente.
Entre um chorinho e outro, ambos falam do que lhes é comum, com toda a sinceridade e amizade. Sem perder a esperança, nem a perseverança, sabem, na prática, que amar é sofrer juntos, é envelhecer juntos...
Não deixe Deus faltarem-lhes as forças, nem o desânimo abatê-los.

Pe. Francisco de Assis Correia.

quinta-feira, 25 de março de 2010

IX – A PEDOFILIA ENTRE AS FILEIRAS DO CLERO


Francisco de Assis Correia *

Há cerca de mais de vinte anos tornou-se recorrente, nos meios de comunicação social, notícia de pedofilia entre o clero, sobretudo no clero católico romano.
Às vezes, o modo de veiculá-la dá impressão de que este crime e pecado ocorre só entre este clero, o que não é verdade. Aliás, infelizmente, a pedofilia ocorre mais em família, e em profissões que lidam diretamente com menores: escolas, orfanatos, internatos, etc.
Ligada à mesma questão, acusa-se que a causa da pedofilia, nesse clero, seja o celibato.
O tema, entretanto, onde quer ocorra, é por demais complexo. É necessário seja estudado sob o foco de muitas luzes: o contexto das pessoas, das culturas; o lado sombrio do coração humano: “todo ser humano, em determinadas circunstâncias e contextos socioculturais, pode tornar-se um monstro” (A. Moser); o clima de violência em que se vive, a desagregação sexual e familiar, ...
Para alguns especialistas a pedofilia é “a manifestação das energias reprimidas”, “um desvio que atinge todas as profissões e todas as camadas sociais, e mais ou menos nas mesmas proporções: cerca de 1%”; “manifesta-se tanto entre solteiros quanto entre casados, mais entre pessoas casadas, ou sexualmente ativas, do que entre pessoas teoricamente solteiras ou celibatárias” ...
O pedófilo ou a pedófila, tem como característica usar do seu poder, da sua dominação, habilmente preparados para serem investidos no objeto de sua satisfação. Ele ou ela sabe usar, mais que tudo, da violência interna, exercendo sua maturidade e impondo o silêncio ...
Há, em si, iniqüidade, cinismo, falsidade, ...
Segundo, ainda, especialistas, os (às) pedófilos (as) não são os únicos culpados. As instituições, a sociedade ... os ajudaram a ser assim!
Merecem, contudo, uma atenção especial, ajuda de terapeutas, vigilância, justiça exemplar e adequada.



*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quinta-feira, 18 de março de 2010


VIII – GREVE DE FOME







Francisco de Assis Correia *

A greve de fome por parte de alguns prisioneiros políticos (e também, de não prisioneiro), em Cuba, suscitou novamente, entre outras questões, a da moral da greve de fome.
Aliás, “greve de fome” é uma expressão equivocada. A palavra greve é imprópria, ou, pelo menos, imprecisa. Trata-se, na verdade, de “greve de alimento”, ou, “greve mediante a fome”. Deste modo, utiliza-se a fome como instrumento de reivindicação (= greve).
longo da História passada e recente, são lembrados os casos de greve de fome de: São Malaquias, no séc. XIII, arcebispo de Armagi, na Irlanda, que recorreu à greve de fome para obter a liberdade de um nobre injustamente preso. Mahatma Gandy, entre 1918 e 1948, para conseguir objetivos políticos; a morte de Mac Swiney(1920); as greves de fome em La Paz(Bolívia, 1977 -1978); as de Santiago (Chile, 1978), a dos 12 membros do IRA (1981) dos líderes radicais populares (Marinaleda, 1981), a de Sakarov (1981), a dos encarcerados na Espanha (1990), de Dom Frei Luiz Flavio Cappio, OFM, Bispo de Barra (2005),etc...
É, moralmente, lícito fazer greve de fome, levar a abstenção de alimentos até à morte ?
Claro que há, em cada greve de fome características diferentes, motivações diversas. Há a greve de fome por motivos políticos, ideológicos, religiosos, etc...
A moral tradicional equipara a greve de fome ao suicídio e portanto, inaceitável de forma absoluta.
Já a moral renovada, reflete este tema a partir de outra perspectiva - a do domínio do homem sobre a própria vida - e, por isso, não a condena de modo absoluto.
Problema especifico neste tema, é o do médico: deve este respeitar a autonomia do grevista de fome? Não deve o médico, em razão de sua profissão, salvar vidas?
Hoje, porém, a Associação Médica Mundial, desde a declaração de Malta (1991), orienta o médico para o respeito da autonomia do grevista e, assim, os novos códigos de ética médica vão adotando esta mesma postura, inclusive no Brasil.
O Poeta Carlos Drummond de Andrade, com fina ironia, escreveu certa vez:
“Jejuador nenhum morre de jejum
Se souber vender a sua greve”!


*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quinta-feira, 4 de março de 2010



VII – Complexidades da Pós-Modernidade (II)
Francisco de Assis Correia *

De 2004 para cá, vem ocorrendo uma série de catástrofe: o Tsunami na Ásia, um grande terremoto no norte do Paquistão, o furacão Katrina, que inundou Nova Orleans, o Ciclone Nargis devastou o Delta do Irrawaddy na Birmânia/ Myammar, o terremoto na província de Sichuan na China, com milhares de mortos, os incêndios na Austrália,... Agora, recentemente, o terremoto no Haiti, no Chile, no Japão... Qual será a próxima catástrofe?
O que a Teologia oferece, como resposta a estas questões ecológicas?
Os ateus servem-se destas desgraças para, mais uma vez “provar”, a inexistência de Deus; os agnósticos para mostrar que, se Ele existisse, não deveria permitir tais sofrimentos...
A Ecoteologia (Teologia que leva em conta a nossa casa comum, a Terra) tenta responder a estas questões: deveríamos agir eticamente com a Terra num “ relacionamento humano com todas as criaturas”(L. Boff), “como devemos nomear Deus em face das questões que o gemido da Terra coloca diante de nós no momento presente? (Anne Elvey). Ela propõe “humildade diante da própria materialidade que nos cerca; uma “ecoteologia inter-religiosa”, uma “visão holística e abordagem harmônica da natureza”, “superar o antropocentrismo e uma consciência histórica exagerada” (Felix Wilfred); “trocar o logos analítico e instrumental pelo logos simbólico”(Alírio Cáceres Aguine); “a práxis é um elemento necessário para responder ao gemido da Terra” (Jacques Haers); uma espiritualidade com “chave animada por uma consciência ecológica”(Neil Darragh); “conversão ecológica nos moldes ecofeministas de duas organizações chilenas(“Con-Spirando” e “Capacitar”(Mary Judith Ress); “abordagem ecocêntrica da educação “(John Clammer); “uma teologia da criação para hoje”(Josias da Costa Júnior), etc...
Cf. CONCILIUM, nº331 (2009/3)




*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

VII – Complexidades da Pós-Modernidade (I)


Francisco de Assis Correia *



Não bastassem os novos ateísmos contemporâneos, surgem as discussões acirradas em torno do monoteísmo e do politeísmo. A revista Concilium, nº 333 (2009/4) revela o debate: Monoteísmo - Repensando Divindade e Unidade. Este é seu título. As perguntas são muitas:
Seria mesmo o monoteísmo fonte e estimulo de violência, de perversidade, de exclusão? Seria o monoteísmo mortífero? Maleficente? Seria o monoteísmo avanço da razão? Seria, ainda hoje, válido e legitimo o monoteísmo? Por que as três religiões monoteístas (Judaismo, Cristianismo e Islamismo) se debatem? Os judeus acusam o Cristianismo de politeísta por afirmar Jesus Cristo como Filho de Deus e Messias... O Islamismo por negar a Trindade das Pessoas Divinas.
O debate já vem de longe. Desde o Iluminismo para cá. Na década de 60 do séc. 20, entre biblistas protestantes e católicos, o assunto voltou com intensidade explicita! E, mais recentemente, a partir de 1997, com a publicação, em alemão, da obra: Moisés, o Egípcio de Jan Assmann, o debate teológico ampliou-se!
A insistência no monoteísmo como violento, exclusivista, autoritário e o politeísmo como pacífico, inclusivista e tolerante predomina.
Vale, aqui, lembrar a tese de Hans Küng e pela qual vem trabalhando: não haverá paz no mundo, enquanto não houver paz entre as religiões!
Isto vai além de todo ecumenismo, de diálogo interreligioso e interhumano!
A aceitação do Deus Triuno (Trindade), Comunhão de Pessoas Divinas é o modelo de toda comunidade humana. Nela não há lugar para exclusões, para nenhum tipo de violência, nem de autoritarismo (nem religioso!)...





*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quarta-feira, 3 de março de 2010

VI – Mindlin e as Telas de Calixto


Francisco de Assis Correia *

O falecimento do Dr. José Mindlin no último dia 28, trouxe-me à memória um encontro havido na catedral metropolitana de Ribeirão Preto, no dia 23 de agosto de 1975.
Mindlin veio à Ribeirão Preto para se inteirar da situação cultural da região, reunindo-se par isto com oitenta prefeitos que, convidados, só compareceram 4! Na sua humildade e simplicidade, justificou a ausência dos outros 76 que estariam em Barretos, onde se encontrava, no mesmo dia, o governador Paulo Egydio Martins.
Em entrevista à imprensa ribeirabretana, Mindlin prometeu incrementar a cultura na região, enviar um questionário às prefeituras sobre suas atividades culturais, etc.
Após a entrevista, ele foi visitar a nossa catedral metropolitana onde uma equipe de leigos liderava a restauração da mesma (1975-1979). Nela, prometeu enviar uma equipe técnica da Politécnica de São Paulo para assessorar a obra e pediu que as telas de Benedito Calixto, contando a vida de São Sebastião, fossem transportadas para a Capital, afim de serem restauradas, sem nenhum, ônus para a cúria metropolitana! (Cf. DIÁRIO DE NOTÍCIAS, O DIÁRIO, DIÁRIO DA MANHÃ, A CIDADE do dia 14/08/1975).
Dois meses depois, Mindlin pediu demissão do seu cargo de Secretario da Cultura do Estado de São Paulo, após o assassinato do jornalista Vladmir Herzog!
Com isso, todas as suas boas intenções e sérios propósitos de incrementar a nossa cultura na região se foram.
A memória desse grande Homem, permanece e nela, a nossa gratidão, Dr. José Mindlin(1914-2010).
Obrigado pela visita.
A Deus ! “Shallon”!


*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

V - Igreja e o Cinema


V - A Igreja e o Cinema


Francisco de Assis Correia *


Não vou escrever nenhuma história desta relação, nem nenhum tratado sobre este tema, alias, apaixonante, sobretudo, neste momento em que se aguarda o Oscar de 2009 (AVATAR ?, Amar sem Escalas ?...?)!
Lendo o Jornal de Opinião (15 à 21/02/2010), deparei-me com uma lista de 45 filmes, divulgados em 1996 pelo Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, organismo da Santa Sé, comemorando o centenário do cinema! Os filmes foram divididos em três categorias: religião, arte e valores, e apresentados como os melhores de todo este período:
Religião
A Paixão - Ferdinand Zecca (França, 1903)
Martírio de Joana d'Arc - Carl Dreyer (França, 1928)
Monsieur Vicent - Maurice Cloche (França, 1947)
As Flores de São Francisco - Roberto Rossellini (Itália, 1950)
Ordet - Carl Dreyer (Dinamarca, 1956)
Ben-Hur - William Wyler (Estados Unidos, 1959)
O Nazareno - Luis Buííuel (México, 1959)
O Evangelho segundo São Mateus - Pier Paolo Pasolini (Itália, 1964)
O Homem que não vendeu sua alma - Fred Zinnemann (Inglaterra, 1966)
Andrei Rublev - Andrei Tarkovsky (União Soviética, (966)
O Sacrificio - Andrei Tarkovsky (Suécia/França, 1986)
A Missão - Roland Joffe (Inglaterra, 1986)
A Festa de Babette - Gabriel Axel (Dinamarca, 1987)
Francesco - Liliana Cavani (Itália, 1988)

Arte

Nosferatu
F.W. Murnau (Alemanha, 1922)
Metropolis - Fritz Lang (Alemanha, 1927)
Napoleão - Abel Gance (França, 1927)
As Quatro Irmãs - George Cukor (Estados Unidos, 1933)
Tempos Modernos - Charles Chaplin (Estados Unidos, 1936)
A Grande Ilusão - Jean Renoir (França, 1937)
No Tempo das Diligências. John Ford (Estados Unidos, 1939)
O Mágico de Oz - Victor Fleming (Estados Unidos, 1939)
Fantasia - Walt Disney (Estados Unidos, 1940)
Cidadão Kane - Orson Welles (Estados Unidos, 1941)
The Lavendar HiII Mob - Charles Chrichton (Inglaterra, 1951)
A Estrada - Federico Fellini (Itália, 1954)
8 1/2 - Federico Fellini (Itália, 1963)
O Leopardo - Luchino Visconti (Itália, 1963)
200I : Uma Odisséia no Espaço - Stanley Kubrick (Inglaterra, 1968)

Valores
Intolerância - D.W. Giffith (Estados Unidos,1916)
Roma, Cidade Aberta - Roberto Rossellini (Itália, 1945)
A Felicidade não se compra - Frank Capra (Estados Unidos, 1947)
Ladrão de Bicicletas· Vittorio De Sica (Itália, 1948)
Sindicato de Ladrões - Elia Kazan (Estados Unidos, 1954)
A Harpa da Birmânia - Kon Ichikawa (Japão, 1956)
Morangos Silvestres - Ingmar Bergman (Suécia, 1957)
O Sétimo Selo -Ingmar Bergman (Suécia, 1957)
Dersu Uzala - Akira Kurosawa (União Soviética/Japão, 1975)
The Tree of Wooden Clogs - Ermanno Olmi (Itália, 1978)
Carruagens de Fogo - Hugh Hudson (Inglaterra, 1981)
Gandhi - Richard Attenborough (Inglaterra, 1982)
Adeus, meninos - Louis Malle (França, 1987)
O Decálogo - Krzystof Kieslowski (Polônia, 1988)
A Lista de Schindler - Steven Spielberg (Estados Unidos, 1993)

Destacam-se nesta lista a diversidade de valores e a pluralidade de opções. Claro que os critérios são igualmentes variados para a avaliação. Assim, por exemplo,destes 45 filmes, na lista de Rounald Bergan (Guia Ilustrado Zahar Cnema) de cem melhores filmes, só seis dos aqui listados aparecem! Em Lendo as Imagens do Cinema de Laurent Jullier e Michel Marie 7 !









*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010


IV- O Programa Nacional de Direitos Humanos
Francisco de Assis Correia *

A publicação do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos assinado pelo Presidente Lula e publicada em 21 de dezembro de 2009 tem provocado polêmicas por toda parte.
O Jornal de Opinião da Arquidiocese de Belo Horizonte (edição de 15 a 21/02/2010), muito oportunamente elencou oito propostas deste programa que são mais polemicas; as referentes ao agronegócio, ao sem- terra e reforma agrária, às fortunas, ao controle da mídia, aos militares e documentos da ditadura, aos homossexuais, ao aborto e à religião.
A CNBB reagiu prontamente manifestando-se contraria a 5(cinco) pontos: A descriminalização do aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o direito de adoção de crianças por casais-homoafetivos, a criação de mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União e o cerceamento da imprensa.
Suas razões para ir contra a descriminalização do aborto são as seguintes: “o Programa Nacional de Direitos Humanos quer descriminalizar o aborto tornando-o legítimo e factível até o último dia da gestação. Isto contradiz frontalmente o espírito e a letra (do artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, 10/12/1948). Além disso pretende fazer passar como direito universal à vontade de uma minoria, já que a maioria da população brasileira manifestou explicitamente sua vontade contrária. Fazer aprovar por decreto o que já foi rechaçado repetidas vezes por órgãos legítimos, traz à tona métodos autoritários dos quais com muitos sacrifícios nos libertamos ao restabelecer a democracia no Brasil na década de 80.
Além do mais “a abertura à vida está no centro do desenvolvimento – afirmou o Papa Bento XVI. Quando uma sociedade começa a negar e a suprimir a vida, acaba por deixar de encontrar as motivações e as energias para trabalhar no serviço do verdadeiro bem do homem”(Caritas in Veritate, nº28).
E a polêmica deverá continuar até que se chegue a um consenso com bom senso como costuma dizer o Frei Antonio Moser, O.F.M


*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010




III – Quaresma, Semana Santa e Páscoa


Francisco de Assis Correia*





1 – Quaresma
Há alguns anos atrás, falar em quaresma era lembrar um tempo tenebroso, feio, cheio de proibições, medo... Tempo de lobisomem, de superstições e de tristeza. Tempo de muita penitencia, de jejuns, de via-sacra, de rezar pelas almas, de procissões do Senhor dos Passos, de Nossa Senhora das Dores. Homens numa. Mulheres noutra. Até o repique dos sinos era diferente. Mais para morto que para vivo. As matracas roucas e repetitivas pareciam anunciar o fim do mundo! Tempo de comer peixe e abster-se de carne. Há gente que, mesmo sem freqüentar a igreja conserva orgulhosamente a tradição de não comer carne às quartas e sextas feiras da quaresma! A legislação da Igreja mudou, mas eles não.
Embora alguns tentem voltar a esse passado mais devocional e tradicional do que atualizar liturgicamente este tempo e torná-lo oportunidade de evangelização e aprofundamento da fé, a quaresma permanece como tempo constituído de cinco semanas através das quais, somos chamados a nos preparar para a páscoa. É tempo de preparação para a maior festa do Cristianismo: a Ressurreição de Cristo. Tudo, neste tempo, tem sentido se for ordenado par uma sincera, autêntica e genuína preparação para a Festa da Páscoa. Caso contrário, vira folclore anual, sem sentido verdadeiramente litúrgico e cristão.
A renovação litúrgica proposta pelo Concilio Vaticano II quis resgatar a verdadeira prática quaresmal. Com este objetivo prescreve:
“Tanto na liturgia, quanto na catequese litúrgica, esclareça-se melhor a dupla índole do tempo quaresmal que, principalmente pela lembrança ou preparação do Batismo e pela penitencia fazendo os fiéis ouvirem com mais freqüência a Palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do mistério pascal” (SC, 109).
Observa-se, aqui, a primazia da Palavra de Deus. Esta é a primeira missão e obrigação dos ministros da Igreja: pregar. E a quaresma apresenta-se como tempo mais que oportuno para isso. A oração virá como resposta à Palavra anunciada.
Quaresma é igualmente tempo de conversão entendida como mudança de vida para melhor; retomada da vida para que seja mais de acordo com o Evangelho, para produzir bons frutos.
Afastadas aquelas tradições que já não condizem com o autêntico sentido da Quaresma, vivamos intensamente este tempo aguardando vigilantes a Páscoa do Senhor.



2- Semana Santa
A semana santa é assim chamada porque, nela celebramos os principais mistérios da nossa fé cristã: a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
Ela se inicia com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor.
De Ramos, porque neste dia, fazemos a memória da entrada do Senhor em Jerusalém, com a benção e a procissão de ramos.
Da Paixão do Senhor, porque se proclama a Paixão segundo um dos Evangelistas Sinópticos. Neste ano é proclamada a Paixão segundo Lucas.
Vem, depois, o chamado Tríduo Pascal, que compreende a Quinta- Feira Santa, a Sexta-Feira Santa e o Sábado Santo que, segundo Santo Agostinho é “o sacratíssimo Tríduo do Crucificado, Sepultado e Ressuscitado”.
Quinta-feira Santa: nas catedrais, celebra-se, pela manhã a missa do Crisma. À tarde, em todas as paróquias, celebra-se a Missa da Ceia do Senhor, com o Rito do Lava-pés.
Sexta-Feira Santa: celebra-se a Paixão e Morte do Senhor. Não há missa neste dia. Mas há, a proclamação da Paixão segundo São João, as orações solenes, a adoração da Cruz e a comunhão.
Sábado Santo: à noite celebra-se a Vigília, mãe de todas as vigílias que é a Vigília Pascal, que compreende: a Celebração da Luz, a Liturgia da Palavra, a Liturgia Batismal e a Liturgia Eucarística.
Termina assim, o Tríduo Pascal.
O Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor chamado “Domingo dos domingos”, “Festa das festas”, “Rainha de todas as festas, de todos os domingos, de todos os dias do ano”. Celebramos Aquele que venceu a morte ressuscitando e dando-nos a esperança de que, também nós haveremos de ressuscitar e viveremos com Ele. Aleluia!
Segue o Tempo Pascal até o Domingo de Pentecostes que, neste ano celebra-se no dia 23 de maio.





*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

sábado, 13 de fevereiro de 2010

3. Solidariedade


Francisco de Assis Correia*



A CFE-2010 insiste na solidariedade. Esta precisa ser apreendida.


“Aprender a solidariedade significa amar o próximo também nas dimensões globais, em uma interdependência mundial” (nº 24).


“A solidariedade faz da humanidade uma família onde todos se protegem mutuamente. Assim problemas que pareciam insolúveis podem ter soluções surpreendentes. A partilha faz milagres” (p.59).


“A solidariedade aumenta nossa sensibilidade aos aspectos específicos da dor e da humilhação de outros seres humanos”(p.60).


“Na tradição cristã não encontramos apenas a caridade de indivíduos ou a generosa solidariedade de comunidades inteiras. Também buscou-se insistentemente soluções alternativas às estruturas econômicas injustas: criação de hospitais, construção de

escolas, organização de economia comunitária, organização de sindicatos e partilha. Hoje como no passado, as comunidades cristãs devem se interrogar sobre seu patrimônio, seu uso do dinheiro e seu compromisso com a transformação econômica e social do Pais”(p.65).


“É missão das comunidades cristãs dar testemunho de solidariedade e educar os incluídos na sociedade da abundancia e do consumismo para que valorizem o ser humano na sua dignidade e não nas aparências e adquiram espírito critico em relação à propaganda... “(p.71).


“A solidariedade aumenta nossa sensibilidade à dor e à humilhação de outros seres humanos”(p.237).


A solidariedade, no texto, é apresentada como a perspectiva “para mudar o atual rumo de desenvolvimento”; “a inclusão de todos e todas nos benefícios do desenvolvimento como direito de cidadania. Trata-se da valorização da cooperação, da responsabilidade coletiva e compartilhada em favor da construção da sociedade mais justa, com a superação das desigualdades socioeconômicas, étnicas, de gênero e de geração”(p.306).


A proposta da CFE-2010 é a Economia Solidaria entendida como “um jeito de fazer a atividade econômica de produção, oferta de serviços, comercialização, finanças ou consumo baseado na democracia e na cooperação, o que chamamos de autogestão: ou seja, na Economia solidaria não existe patrão nem empregados, pois todos os/as integrantes do empreendimento (associação, cooperativa ou grupo) são ao mesmo tempo trabalhadores e donos.


A Economia Solidária é também um jeito de estar no mundo e de consumir (em casa, em eventos ou no trabalho) produtos locais, saudáveis, da Economia Solidaria, que não afetem o meio ambiente, que não tenham transgênicos e nem beneficiem grandes empresas.


Por fim, a Economia Solidaria é um movimento social, que luta pela mudança da sociedade, por uma forma diferente de desenvolvimento, que não seja baseada nas grandes empresas nem nos latifúndios com seus proprietários e acionistas, mas sim um desenvolvimento para as pessoas e construída pela população a partir dos valores da solidariedade, da democracia, da cooperação da preservação ambiental e dos direitos humanos”(p.308)



*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

II - REFLEXÕES EM TORNO DE TEMAS DA CFE – 2010

Francisco de Assis Correia*

1. Novas dimensões da caridade: -

Alerta-se sempre sobre o sentido da palavra caridade. O perigo está em entendê-la só como dar uma esmola. Desencargo de consciência diante de um pobre. Ora, caridade é muito mais do que este gesto.
Há tempo que teólogos tentam alargar o sentido da caridade, virtude das obras de misericórdia e virtude teologal que nos une diretamente a Deus e é a mais sublime das virtudes.
Caridade tem a ver com amor no seu mais profundo sentido de doação, de entrega de vida.
O texto da CFE-2010, muito apropriadamente traduz caridade por solidariedade, o que supõe, imbrica: empatia, compaixão, alteridade, na sua mais alta expressão. E distingue solidariedade assistencial (ou caridade assistencial), solidariedade promocional (ou caridade promocional) e solidariedade libertadora(ou caridade libertadora).
Resumidamente o texto explica:
“Na primeira, dá-se o peixe, cobrindo uma necessidade e um direito imediato; na segunda ensina-se a pescar; na terceira, luta-se junto com os excluídos para ter acesso ao rio e pesca-se com eles.
É na perspectiva do pescar juntos, do construir outra sociedade em que “tudo esteja em comum e não haja necessitados”, que se move o espírito dos Fundos de Solidariedade.(p.120 do Manual da CFE-2010)
O texto, a seguir, explicita cada uma destas dimensoes, que, por sua propriedade e clareza, transcrevo-as:

“Dar o peixe” – há situações de urgência e de emergência em que o apoio aos excluídos não pode esperar. É preciso mobilizar esforços para sua sobrevivência imediata: remédios, alimentos, roupas, lonas, etc. Tais apoios são fundamentais, mas insuficientes para impedir a repetição de situações semelhantes, especialmente quando não são causadas unicamente por fatores naturais (terremotos, inundações, secas, queimadas, etc), pois, em geral, os excluídos, que vivem em situações de risco permanente, são os mais dramaticamente atingidos.

“Ensinar a Pescar” - são ações que visam à capacitação dos excluídos para que possam buscar a superação de suas limitações. São ações educativas e promocionais, fortalecem a autoestima pessoal, valorizam as atividades grupais e comunitárias e estimulam a identidade coletiva. São indispensáveis, inclusive nas situações de emergência, como base de sustentação para ações de superação da exclusão social. Se, porém, limitadas à promoção individual ou do grupo, vão restringir-se à “vara de pesca”, não dando atenção nem valorizando “ o rio que passa”.

“Pescar juntos” – é preciso compreender e conviver com o rio, seus contornos e seus habitantes para poder realizar solidariamente “o milagre da multiplicação dos peixes”. Já não há apoiadores e apoiados, mestres e alunos, dirigentes e dirigidos. Todos estão empenhados na construção de um projeto de sociedade em que se derrubem as barreiras da exclusão e reine a paz. Assim, os grupos e comunidades apoiados pelos Fundos tornam-se “sujeitos construtores da história”. Na medida em que são tratados como “parceiros” solidários dessa caminhada, passam a difundir, articular e ampliar as bases do movimento de solidariedade.”(CFE – 2010, p.120 - 121)
“O mandamento do amor a Deus e ao próximo precisa ser compreendido em toda a sua amplitude, pois inclui, entre outras coisas: optar por uma economia do bem comum e do suficiente, economizar de modo responsável (não como um avarento), reutilizar, reciclar, respeitar com gratidão os dons de Deus e doar com generosidade serviços e bens para socorrer e promover os necessitados.”(CFE-2010, nº 112)

2. A IDOLATRIA DO DINHEIRO
O lema da CFE-2010 proclama: “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”(MT 6, 24).
Idolatria é culto a um ídolo; é divinização de alguma criatura, ou adoração de deuses falsos (ídolos). No caso, é a divinização ou a absolutização do dinheiro.
O lema da CFE-2010 “nos propõe uma escolha ante os valores do plano de Deus e a rendição diante do dinheiro, visto como valor absoluto dirigindo a vida. O problema não é dinheiro em si, mas o uso que dele se faz. É útil como instrumento destinado ao serviço e intercambio de bens de uso, mas não pode ser o supremo comandante dos nossos atos, o critério absoluto das decisões dos indivíduos e do governo. Deve ser usado para servir ao bem comum das pessoas, na partilha e na solidariedade.
Nossa atitude diante do dinheiro mostra muito o tipo de pessoa que somos. Por isso Jesus disse: “onde estiver o teu tesouro ali também estará o teu coração”(Mt 6, 21). Se o enriquecimento e a acumulação continuam a ser o sonho da sociedade, os valores se invertem e colocamos em segundo plano a pessoa, sua vida, sua diginidade, seu bem-estar. A relação com Deus e todos as demais aspirações humanas acabam por serem rebaixadas a valores secundários. Vemos assim que a acumulação, o não repartir, tem profundas conseqüências espirituais”. (nº 70)
Quantas vezes e de maneira cruel o dinheiro se torna a causa da exclusão social, de humilhação e de sofrimento humano!
Já dizia Giovanni Papini, na sua Vida de Cristo: “o dinheiro é excremento do diabo”!
O texto muito apropriadamente adverte as Igrejas para o risco de elas mesmas caírem no culto do dinheiro, com sua “teologia da prosperidade”, “que transforma até a oração numa forma de comércio com Deus. (nº 62)
Ou, com a “teologia da retribuição” que torna a religião “manipuladora de consciências, no que diz respeito ao verdadeiro lugar do valor econômico. Assim, temos muitas instituições religiosas que pregam a chamada “teologia da retribuição” segundo a qual Deus ajuda principalmente aqueles que ajudam financeiramente a instituição religiosa. Assim, a doação financeira estabelece vínculos comerciais entre a pessoa e o próprio Deus, que se torna sujeito de obrigações perante o fiel. Outro problema que surge é que a religião fica reduzida a questões do dia-a-dia, sem abrir-se ao transcendente e sem buscar os significados mais profundos da existência humana ou o empenho, em vista à transformação social”. (p.291).
Estão a negociar com um ídolo e não cultuando o verdadeiro Deus, Pai de Jesus Cristo.
O texto-base da CFE-2010, muito profeticamente, traz um apelo às Igrejas que reproduzo a seguir:
“Nós, Igreja e crentes, somos chamados a encarar a realidade do mundo a partir da perspectiva das pessoas, particularmente das pessoas oprimidas e excluídas. Somos chamados a ser comunidades não-conformistas e transformadoras. Somos chamados a nos deixar transformar mediante a libertação das nossas mentes da postura imperial dominadora, conquistadora e egoísta, assim praticando a vontade de Deus (de acordo com a Torá), a qual é cumprida em amor(ágape, em grego) e solidariedade (Rm 13, 10,1; Jo 3, 10-24). Comunidades transformadoras são transformadas pela graça amorosa de Deus. Elas praticam uma economia de solidariedade e compartilhamento. Na qualidade de igrejas que somos chamados a criar espaços para a transformação e nos tornar agentes de transformação, mesmo se estivermos enredados e mancomunados com o próprio sistema a cuja mudança somos chamados a estar juntos com o povo que sofre e com a Criação que geme, em solidariedade com aqueles que estão construindo comunidades alternativas de vida. O lugar das Igrejas é onde Deus está atuando, Cristo está sofrendo e o Espírito está cuidando da vida e resistindo aos principados e poderes destrutivos. As igrejas que se mantiverem distantes desse lugar concreto do Deus Triúno não podem afirmar que são igrejas fiéis”. (nº 68)
Para evitar qualquer dúvida ou suspeita quanto ao uso do dinheiro nas Igrejas, como em qualquer instituição, é imprescindível a transparência na indispensável prestação de contas.








*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Solidariedade e Paz


Campanha da Fraternidade
- 2010 -
Francisco de Assis Correia*
  1. Neste ano de 2010 a Campanha da Fraternidade é Ecumênica

Seu tema: Economia e vida
Seu lema: "Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro" (Mt, 6,24)
É a terceira Campanha da Fraternidade Ecumênica.
A primeira foi em 2000, com o tema: "Dignidade Humana e Paz"; e o lema: "Novo Milênio sem exclusões".
A segunda foi em 2005, com o tema: "Solidariedade e Paz"; e o lema: "Felizes os que promovem a Paz".
É Ecumênica, porque reúne o trabalho das Igrejas que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC); : Igreja Católica, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Sírian Ortodoxa de Antioquia.
"O que move as Igrejas a agir é a graça, o amor de Deus e o testemunho de sua fé em Jesus Cristo".
O objetivo geral da CFE (Campanha da Fraternidade Ecumênica) deste ano é: "Colaborar na promoção de uma Economia a Serviço da Vida, fundamentada no Ideal da Cultura da Paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão".
Ela busca inspiração na Fé Cristã para fomentar uma economia que atenda às necessidades básicas de todos os seres humanos.
Por isso, seus objetivos específicos são:
- "sensibilizar a sociedade sobre a importância de valorizar todas as pessoas que a constituem.
- buscar a superação do consumismo, que faz com que o "ter" seja mais importante do que as pessoas.
-criar laços entre as pessoas de convivência mais próxima em vista do conhecimento mútuo e da superação tanto do individualismo como das dificuldades pessoais.
-mostrar a relação entre fé e vida, a partir da prática da justiça, como dimensão constitutiva do anúncio do Evangelho.
-reconhecer as responsabilidades individuais diante dos problemas decorrentes da vida econômica em vista da própria conversão" (CFE, 19).
Esses objetivos, no texto-base, são trabalhados em quatro níveis: social, eclesial, comunitário e pessoal.
O mesmo está dividido em cinco partes:

- introdução: A vida em primeiro lugar
-a vida ameaçada
- economia para a vida
-promover a vida
- conclusão
E o texto se encerra com um rico comentário ao Pai-Nosso, lido e rezado à luz do tema da CFE 2010.
Comentarei a seguir o referido texto, parte por parte.

2. A Vida em Primeiro Lugar

Este é o titulo da Introdução do texto-base.
Começa contrapondo a dádiva da vida e a lógica do mercado. Diante da primeira, importa, saibamos ser agradecidos; diante da segunda, importa tenhamos consciência de que há valores que “não se podem nem se devem vender e comprar”.
“A dádiva nos introduz num círculo onde tudo é graça e solidariedade”. Mas, também, de interdependência mundial e corresponsabilidade mútua.
Precisamos de uma economia que sirva à vida e não de vida a serviço da economia. Esta não é autônoma. Ela tem “a obrigação moral de garantir oportunidades iguais, satisfazer as necessidades básicas das pessoas e buscar a justiça”.
É dentro desta perspectiva que se examina, por exemplo, o valor econômico da água. Essa não é uma mercadoria. Ela tem dimensão de direito humano, caráter vital, sagrado.
O mesmo critério estende-se ao Planeta Terra, diante do qual importa o cuidado, a preservação e o respeito.
Felizmente, crescem, hoje, iniciativas a favor da vida, dos desamparados, do desenvolvimento sustentável e do ponto de vista social e ecológico.


3. A Vida Ameaçada

A primeira parte do texto-base corresponde ao ver a realidade, tal como ela se apresenta. Esta se revela com o número incontável de pobres, tanto no Brasil como no mundo em geral; de desigualdade, de indigência.
Os pobres não são apenas destinatários da compaixão das Igrejas. É preciso promover, com urgência e eficiência, os direitos dos pobres, facilitar-lhes o ingresso na cidadania plena: valorizá-los, ser ouvidos, levados a serio...
O sonho de todas as pessoas é desfrutar de uma vida longa, saudável e criativa. “Isso é um direito universal e uma necessidade que implica o bem de toda a sociedade”.
Obstáculos a serem superados: o individualismo, a falsa ética utilitária, o consumismo, o lucro excessivo, a acumulação da riqueza, a fome, a desnutrição, a pobreza, o desenvolvimento equilibrado, a valorização do patrimônio em detrimento a vida dos pobres, a escravidão dos trabalhadores, a dívida interna e externa, a dívida social, a falta da reforma agrária, a corrupção, a degradação do meio ambiente, a deterioração do trabalho, a privação de direitos fundamentais...

4. Economia para a vida

Trata-se da segunda parte do texto-base. Momento do julgar, à luz da fé cristã, a realidade encontrada.
À luz do lema proposto: “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24), somos convidados a escolher entre “os valores dos planos de Deus e a rendição diante do dinheiro, visto como valor absoluto dirigindo a vida. O problema não é o dinheiro em si mas o uso que dele se faz”.
Por isso, é necessário haja um sistema econômico para todas as pessoas conforme o plano de Deus que quer o bem de todos. Ou “vivemos solidariamente como irmãos ou seremos todos infelizes num mundo trágico”. E, de acordo com a Palavra de Deus, o trabalho apresenta uma escala de prioridades em quatro dimensões: social, comunitária, pessoal e eclesial e da pratica religiosa (nº72).
Vemos pela bíblia como Deus repartiu a terra fraternalmente entre as tribos; como Ele quer o trato, o cuidado e o desvelo para com a terra; como Ele quer justiça para os pobres; como Ele proíbe empréstimo com juros; Ele quer que os trabalhadores sejam respeitados em sua dignidade; no Reino de Deus a lei é a solidariedade; Deus quer ser amado e servido nos pobres...

5. Promover a Vida

A terceira parte resume o agir no promover a vida. Isto é:
- no âmbito social, servir a Deus e não ao dinheiro exige a promoção de políticas que dêem a todos o direito de desenvolver seus talentos e viver dignamente.
- no âmbito comunitário estar atentos ao que acontece à nossa volta e militar em todas as frentes.
- no âmbito eclesial, servir mais a Deus e ao próximo, estando a serviço das causas sociais.
- no âmbito pessoal, educar-se e educar para o respeito ao direito de todos, para o cuidado responsável com o planeta, para a resistência às seduções do consumismo, para valorizar cada um pelo que é, pelo potencial que tem e não por aquilo que possui como riqueza material. Nesse espírit, devemos estar preparados para o protesto profético sempre que for necessário.
O texto denuncia a perversidade de todo modelo econômico que vise em primeiro lugar o lucro, sem se importar com a desigualdade e miséria, fome e morte”.
Afirma que “a economia deve sustentar a qualidade da vida de todas as pessoas no limite das condições sustentáveis ao Planeta e deve servir ao bem comum, universalizando os direitos sociais, culturais e econômicos”.
Busca “linhas de compromisso concreto de ação para que a riqueza e a política econômica sejam colocadas a serviço do desenvolvimento integral de toda sociedade brasileira e da humanidade. Sem passar a ações bem concretas na vida de cada pessoa e da política de Estado, sem dar novos rumos às metas e finalidades da organização da economia, toda boa intenção e todo bom discurso moral se tornam vazios”.
Conclama a todos para ações sociais e políticas capazes de implantar um modelo econômico de solidariedade e justiça para todas as pessoas”.
Destaca “a importância da ação coletiva para a transformação social. O dialogo permanente e a articulação das forças sociais, a colaboração entre Igrejas e sociedades etc ...”.
Tratando do ecumenismo e da opção pelos pobres como “adesão livre ao mandamento do Senhor”, o texto brinda-nos com esta máxima: “O cristão é um servidor não alguém que recorre a Deus em busca de favor” (nº109).
Propõe ainda: educação para a solidariedade, desenvolvimento de processos de educação popular, dar testemunho de solidariedade, educar os indivíduos na sociedade da abundancia e do consumismo, optar por uma economia do bem comum e do suficiente, economizar de modo responsável (não como um avarento), reutilizar, reciclar, respeitar com gratidão os dons de Deus e doar com generosidade serviços e bens para socorrer e promover os necessitados...
O texto atualiza, também, o que hoje, é estar do lado dos pequenos:
-não é somente dar esmola ou distribuir comida
-é criar consciência dos direitos e incluir na cidadania
-valorizar o trabalho
-inventar novas formas de trabalho produtivo
-integrar todas as pessoas em atividades remuneradas
-e exigir a proteção social para as pessoas em necessidade
Propõe, ainda, lutas que visem a conquista da emancipação do ser humano e do trabalho (com seis propostas concretas), criar um novo conceito de sistema bancário, políticas públicas e seguridade social (com seis propostas concretas), preservação do meio ambiente e reforma agrária.

*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP