A Caminho da Pascoa: Acreditar na Solidariedade, na Partilha é corresponder ao mandato apostolico deixado por Jesus Cristo... somos discipulos e missionarios, chamados a servir ao proximo com caridade, solidariedade e partilha.

quinta-feira, 25 de março de 2010

IX – A PEDOFILIA ENTRE AS FILEIRAS DO CLERO


Francisco de Assis Correia *

Há cerca de mais de vinte anos tornou-se recorrente, nos meios de comunicação social, notícia de pedofilia entre o clero, sobretudo no clero católico romano.
Às vezes, o modo de veiculá-la dá impressão de que este crime e pecado ocorre só entre este clero, o que não é verdade. Aliás, infelizmente, a pedofilia ocorre mais em família, e em profissões que lidam diretamente com menores: escolas, orfanatos, internatos, etc.
Ligada à mesma questão, acusa-se que a causa da pedofilia, nesse clero, seja o celibato.
O tema, entretanto, onde quer ocorra, é por demais complexo. É necessário seja estudado sob o foco de muitas luzes: o contexto das pessoas, das culturas; o lado sombrio do coração humano: “todo ser humano, em determinadas circunstâncias e contextos socioculturais, pode tornar-se um monstro” (A. Moser); o clima de violência em que se vive, a desagregação sexual e familiar, ...
Para alguns especialistas a pedofilia é “a manifestação das energias reprimidas”, “um desvio que atinge todas as profissões e todas as camadas sociais, e mais ou menos nas mesmas proporções: cerca de 1%”; “manifesta-se tanto entre solteiros quanto entre casados, mais entre pessoas casadas, ou sexualmente ativas, do que entre pessoas teoricamente solteiras ou celibatárias” ...
O pedófilo ou a pedófila, tem como característica usar do seu poder, da sua dominação, habilmente preparados para serem investidos no objeto de sua satisfação. Ele ou ela sabe usar, mais que tudo, da violência interna, exercendo sua maturidade e impondo o silêncio ...
Há, em si, iniqüidade, cinismo, falsidade, ...
Segundo, ainda, especialistas, os (às) pedófilos (as) não são os únicos culpados. As instituições, a sociedade ... os ajudaram a ser assim!
Merecem, contudo, uma atenção especial, ajuda de terapeutas, vigilância, justiça exemplar e adequada.



*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quinta-feira, 18 de março de 2010


VIII – GREVE DE FOME







Francisco de Assis Correia *

A greve de fome por parte de alguns prisioneiros políticos (e também, de não prisioneiro), em Cuba, suscitou novamente, entre outras questões, a da moral da greve de fome.
Aliás, “greve de fome” é uma expressão equivocada. A palavra greve é imprópria, ou, pelo menos, imprecisa. Trata-se, na verdade, de “greve de alimento”, ou, “greve mediante a fome”. Deste modo, utiliza-se a fome como instrumento de reivindicação (= greve).
longo da História passada e recente, são lembrados os casos de greve de fome de: São Malaquias, no séc. XIII, arcebispo de Armagi, na Irlanda, que recorreu à greve de fome para obter a liberdade de um nobre injustamente preso. Mahatma Gandy, entre 1918 e 1948, para conseguir objetivos políticos; a morte de Mac Swiney(1920); as greves de fome em La Paz(Bolívia, 1977 -1978); as de Santiago (Chile, 1978), a dos 12 membros do IRA (1981) dos líderes radicais populares (Marinaleda, 1981), a de Sakarov (1981), a dos encarcerados na Espanha (1990), de Dom Frei Luiz Flavio Cappio, OFM, Bispo de Barra (2005),etc...
É, moralmente, lícito fazer greve de fome, levar a abstenção de alimentos até à morte ?
Claro que há, em cada greve de fome características diferentes, motivações diversas. Há a greve de fome por motivos políticos, ideológicos, religiosos, etc...
A moral tradicional equipara a greve de fome ao suicídio e portanto, inaceitável de forma absoluta.
Já a moral renovada, reflete este tema a partir de outra perspectiva - a do domínio do homem sobre a própria vida - e, por isso, não a condena de modo absoluto.
Problema especifico neste tema, é o do médico: deve este respeitar a autonomia do grevista de fome? Não deve o médico, em razão de sua profissão, salvar vidas?
Hoje, porém, a Associação Médica Mundial, desde a declaração de Malta (1991), orienta o médico para o respeito da autonomia do grevista e, assim, os novos códigos de ética médica vão adotando esta mesma postura, inclusive no Brasil.
O Poeta Carlos Drummond de Andrade, com fina ironia, escreveu certa vez:
“Jejuador nenhum morre de jejum
Se souber vender a sua greve”!


*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quinta-feira, 4 de março de 2010



VII – Complexidades da Pós-Modernidade (II)
Francisco de Assis Correia *

De 2004 para cá, vem ocorrendo uma série de catástrofe: o Tsunami na Ásia, um grande terremoto no norte do Paquistão, o furacão Katrina, que inundou Nova Orleans, o Ciclone Nargis devastou o Delta do Irrawaddy na Birmânia/ Myammar, o terremoto na província de Sichuan na China, com milhares de mortos, os incêndios na Austrália,... Agora, recentemente, o terremoto no Haiti, no Chile, no Japão... Qual será a próxima catástrofe?
O que a Teologia oferece, como resposta a estas questões ecológicas?
Os ateus servem-se destas desgraças para, mais uma vez “provar”, a inexistência de Deus; os agnósticos para mostrar que, se Ele existisse, não deveria permitir tais sofrimentos...
A Ecoteologia (Teologia que leva em conta a nossa casa comum, a Terra) tenta responder a estas questões: deveríamos agir eticamente com a Terra num “ relacionamento humano com todas as criaturas”(L. Boff), “como devemos nomear Deus em face das questões que o gemido da Terra coloca diante de nós no momento presente? (Anne Elvey). Ela propõe “humildade diante da própria materialidade que nos cerca; uma “ecoteologia inter-religiosa”, uma “visão holística e abordagem harmônica da natureza”, “superar o antropocentrismo e uma consciência histórica exagerada” (Felix Wilfred); “trocar o logos analítico e instrumental pelo logos simbólico”(Alírio Cáceres Aguine); “a práxis é um elemento necessário para responder ao gemido da Terra” (Jacques Haers); uma espiritualidade com “chave animada por uma consciência ecológica”(Neil Darragh); “conversão ecológica nos moldes ecofeministas de duas organizações chilenas(“Con-Spirando” e “Capacitar”(Mary Judith Ress); “abordagem ecocêntrica da educação “(John Clammer); “uma teologia da criação para hoje”(Josias da Costa Júnior), etc...
Cf. CONCILIUM, nº331 (2009/3)




*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

VII – Complexidades da Pós-Modernidade (I)


Francisco de Assis Correia *



Não bastassem os novos ateísmos contemporâneos, surgem as discussões acirradas em torno do monoteísmo e do politeísmo. A revista Concilium, nº 333 (2009/4) revela o debate: Monoteísmo - Repensando Divindade e Unidade. Este é seu título. As perguntas são muitas:
Seria mesmo o monoteísmo fonte e estimulo de violência, de perversidade, de exclusão? Seria o monoteísmo mortífero? Maleficente? Seria o monoteísmo avanço da razão? Seria, ainda hoje, válido e legitimo o monoteísmo? Por que as três religiões monoteístas (Judaismo, Cristianismo e Islamismo) se debatem? Os judeus acusam o Cristianismo de politeísta por afirmar Jesus Cristo como Filho de Deus e Messias... O Islamismo por negar a Trindade das Pessoas Divinas.
O debate já vem de longe. Desde o Iluminismo para cá. Na década de 60 do séc. 20, entre biblistas protestantes e católicos, o assunto voltou com intensidade explicita! E, mais recentemente, a partir de 1997, com a publicação, em alemão, da obra: Moisés, o Egípcio de Jan Assmann, o debate teológico ampliou-se!
A insistência no monoteísmo como violento, exclusivista, autoritário e o politeísmo como pacífico, inclusivista e tolerante predomina.
Vale, aqui, lembrar a tese de Hans Küng e pela qual vem trabalhando: não haverá paz no mundo, enquanto não houver paz entre as religiões!
Isto vai além de todo ecumenismo, de diálogo interreligioso e interhumano!
A aceitação do Deus Triuno (Trindade), Comunhão de Pessoas Divinas é o modelo de toda comunidade humana. Nela não há lugar para exclusões, para nenhum tipo de violência, nem de autoritarismo (nem religioso!)...





*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

quarta-feira, 3 de março de 2010

VI – Mindlin e as Telas de Calixto


Francisco de Assis Correia *

O falecimento do Dr. José Mindlin no último dia 28, trouxe-me à memória um encontro havido na catedral metropolitana de Ribeirão Preto, no dia 23 de agosto de 1975.
Mindlin veio à Ribeirão Preto para se inteirar da situação cultural da região, reunindo-se par isto com oitenta prefeitos que, convidados, só compareceram 4! Na sua humildade e simplicidade, justificou a ausência dos outros 76 que estariam em Barretos, onde se encontrava, no mesmo dia, o governador Paulo Egydio Martins.
Em entrevista à imprensa ribeirabretana, Mindlin prometeu incrementar a cultura na região, enviar um questionário às prefeituras sobre suas atividades culturais, etc.
Após a entrevista, ele foi visitar a nossa catedral metropolitana onde uma equipe de leigos liderava a restauração da mesma (1975-1979). Nela, prometeu enviar uma equipe técnica da Politécnica de São Paulo para assessorar a obra e pediu que as telas de Benedito Calixto, contando a vida de São Sebastião, fossem transportadas para a Capital, afim de serem restauradas, sem nenhum, ônus para a cúria metropolitana! (Cf. DIÁRIO DE NOTÍCIAS, O DIÁRIO, DIÁRIO DA MANHÃ, A CIDADE do dia 14/08/1975).
Dois meses depois, Mindlin pediu demissão do seu cargo de Secretario da Cultura do Estado de São Paulo, após o assassinato do jornalista Vladmir Herzog!
Com isso, todas as suas boas intenções e sérios propósitos de incrementar a nossa cultura na região se foram.
A memória desse grande Homem, permanece e nela, a nossa gratidão, Dr. José Mindlin(1914-2010).
Obrigado pela visita.
A Deus ! “Shallon”!


*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP