A Caminho da Pascoa: Acreditar na Solidariedade, na Partilha é corresponder ao mandato apostolico deixado por Jesus Cristo... somos discipulos e missionarios, chamados a servir ao proximo com caridade, solidariedade e partilha.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

SETEMBRO, MÊS DA BÍBLIA (1)

Pe. Francisco de Assis Correia.

Pretendo tratar do mês da Bíblia em duas etapas: primeiro, relaciono as DGAE 2011-2015 e a Bíblia; depois, tratarei do tema deste ano: A Caminho do Deserto (Êxodo 15, 22-18, 27).
As DGAE 2011-2015 pretendem, entre outras metas, que a Igreja no Brasil seja “fonte da animação bíblica de toda a vida”; que a iniciação cristã esteja “em contato com a Escritura. Alimentando, iluminando e orientando toda a ação pastoral, a Bíblia transporta para a totalidade da existência de pessoas e grupos” (nº 29).
Ela deve ser usada como luz para a vida e não ser instrumentalizada “até mesmo para engodo”, “nem ser instrumentalizada” (nº 49).
Há vários métodos de leitura da Bíblia. Dentre eles, destaca-se a Leitura Orante (nº 52).
“A Igreja no Brasil quer investir cada vez mais na formação de todos os católicos” (nº 92). Para isso, insiste: na “necessidade de possuir a Bíblia”; que “a pessoa seja ajudada a ler corretamente a Escritura”; que é necessária “a experiência de fé”, que se incremente a “animação bíblica de toda pastoral” (nº 93); que “sejam criadas ou fortalecidas equipes de animação bíblica pastoral”, que se proporcionem retiros, cursos, encontros, subsídios para leitura individual, familiar e em pequenos grupos de Palavra de Deus” (nº 94); dentro da animação bíblica, sobressaem aqueles “grupos de famílias, círculos bíblicos e pequenas comunidades em torno à meditação e vivência da Palavra em estreita relação com seu contexto social, cursos e escolas bíblicas, voltados sobretudo a leigos e leigas” (nº 95); o exercício de leitura orante (nº 96), a formação contínua dos ministros e ministras da Palavra (nº 97)...
Como se vê, há um longo percurso para se edificar uma “Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral”. Vai muito além de um mês da Bíblia.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O MÊS VOCACIONAL

Pe. Francisco de Assis Correia.

Agosto é, também, mês vocacional!
Neste ano de 2011, o tema é: “Anunciar a Palavra que gera vida”. O lema é: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10).
Claro que se tem presente a diversidade de vocações! Dentre elas, a vocação para o ministério presbiteral.
As Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil da CNBB (doc. 93) apresentam o ideal do presbítero que se quer:
- “Autêntico presbítero – discípulo”
- “Presbítero – missionário”
- “Presbítero – servidor da vida, cheio de misericórdia, consagrado para pregar o Evangelho”
- “Ser pastor do Povo de Deus”.
Mais ainda, as mesmas Diretrizes afirmam que: “a identidade e a missão do presbítero nas circunstâncias atuais exigem:
1. o testemunho pessoal de fé e de caridade, de profunda espiritualidade vivida, de renúncia e despojamento de si;
2. a prioridade da tarefa da evangelização, o que acentua o caráter missionário do ministério presbiteral;
3. a capacidade de acolhida a exemplo de Cristo Pastor, que une a firmeza à ternura, sem ceder à tentação de um serviço burocrático e rotineiro;
4. a solidariedade efetiva com a vida do povo, a opção preferencial pelos pobres, com especial sensibilidade para com os oprimidos, os sofredores, em fidelidade à caminhada da Igreja na América Latina, retificada pela Conferência de Aparecida (DAp 396);
5. a maturidade para enfrentar os conflitos existenciais que surgem no contato com um mundo consumista, secularizado e até hostil aos valores do Evangelho;
6. o cultivo da dimensão ecumênica, o diálogo inter-religioso, no respeito à pluralidade de expressar a fé em Deus e nos valores do Evangelho;
7. a participação comprometida nos movimentos sociais, nas lutas do povo, com consciência política diante da corrupção e da decepção política, conservando, entretanto, sua identidade presbiteral, mantendo-se fiel ao que é específico do ministério ordenado e observando as orientações do Magistério da Igreja;
8. a capacidade de respeitar, de discernir e de suscitar serviços e ministérios para a ação comunitária e a partilha;
9. a promoção e a manutenção da paz e a concórdia fundamentada na justiça (CIC 287, § 1º);
10. a configuração de homem de esperança e do seguimento de Jesus na cruz” (nº 73).
(Tudo isso que está aqui serve de revisão de vida, de meditação de todos nós presbíteros. Observo que o índice analítico do referido documento traz mais de 120 referências ao termo presbítero! Cf. REB nº 282 (abril – 2011) vários artigos sobre as Diretrizes).
Para se atingir esse modelo, haja formação (humano-afetiva, comunitária, espiritual, pastoral missionária, intelectual e permanente), casas de formação (seminários), equipes de formadores, de professores, etc!
Tudo isso precedido pela Pastoral Vocacional a quem cabe “despertar os vocacionados para a vocação humana, cristã e eclesial”, “ajudá-los a perceberem os sinais indicadores do chamado de Deus”, “auxiliá-los a cultivarem os germes de vocação”, “acompanhá-los no processo de opção vocacional consciente e livre”, “despertar e acompanhar os vocacionados na vocação específica à vida e ao ministério presbiteral” (cf. nº 100).
Completo este texto, com uma longa citação extraída de uma entrevista do Pe. João Batista Libânio, por ocasião do seu Jubileu de Ouro de Ordenação Presbiteral, na qual trata de três tipos de sacerdotes:
“Na minha já longa vida conheci três tipos de sacerdotes. No despertar da vocação estava o padre tradicional. Convivi com muitos deles, exemplares, cumpridores dos deveres. Cultivavam obediência aos ritos, piedade pessoal, virtudes tradicionais e a exterioridade religiosa bem visível. Viviam o paradigma religioso da sacralidade. Encarnavam-no até a raia do mito do Sagrado, sem arrogância e simplesmente por fé na transcendência do sacramento da Ordem. Fui ordenado no final dessa onda. Vieram, então, os sacerdotes do pós-Vaticano 2º. Grande renovação, desde o exterior das vestes até a criatividade na liturgia, na pastoral, na proximidade com as pessoas e com o mundo. Dessacralizou-se a imagem do padre. E nesse jogo, milhares e milhares de sacerdotes mundo afora deixaram o ministério a ponto de assustar Paulo 6º, que a todos dispensava do exercício do ministério e do celibato. Reinava o paradigma da secularização com o desafio de aí dentro viver e anunciar a fé cristã.
Agora está a surgir uma geração de traços pós-modernos no sentido de fragmentação, de bricolage de elementos díspares e até opostos, compostos numa mesma figura. Assim volta-se ao ritualismo externo no vestir, no apresentar-se, no fazer valer a própria sacralidade, mas com tintura de certa artificialidade e defasagem. Não tem a limpidez tradicional, mas também não prossegue na onda secularizante anterior. Vige o paradigma da explosão do fenômeno religioso ao lado da globalização, da exterioridade superficial, da subjetividade narcisista e hedonista” (JORNAL DE OPINIÃO, 04-10/07/2011 pp. 4-5).


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

INDIGNADOS DO MUNDO INTEIRO, UNÍ-VOS

Pe. Francico de Assis Correia.

Será que um mundo melhor é possível?
Indignado é aquele ou aquela que se indignou, isto, se encolerizou, ou se enfureceu, ou se revoltou frente à experiência de indignidade, de injustiça, de afronta...
É uma atitude extrema que não implica, entretanto, violência. Pode ser pacífica e é esta que muda um ambiente, um estado, um país, um mundo.
Refiro-me aos indignados da praça Tahrir (Cairo, Egito), da Puerta del Sol (Madri, Espanha), Syntagma (Atenas, Grécia), e de países como: Itália, Portugal, Inglaterra, Chile,...
Pretende-se a radicalização da democracia! Quer-se futuro!
Deles brota um grito de basta!
“Um basta à pregarização da vida, à mercadorização, à política irrelevante que nada decide, e quando decide, o faz, a favor do mercado, das finanças”.
São jovens que clamam:
“Menos materialismo e mais humanismo”!
“Dignidade”!
“É um desejo da utopia”!
“Não ao pensamento único”!
“Mudança do sistema”!
Há pontos que resumem reivindicações que, uma vez articulados, unidos, podem transformar o mundo, de mudar as coisas: assim, por exemplo, como explica Josep María Anteantas, professor de Sociologia da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB): mudança no conceito de democracia representativa, rompimento com o neoliberalismo, fomentar a autoorganização popular, a participação nos assuntos coletivos, defesa dos bens comuns, solidariedade comum e igualdade.
O mesmo autor vê neste movimento dos indignados a recuperação da “confiança na ação coletiva, na capacidade coletiva de mudar as coisas”.
É o que precisam todos os indignados do mundo.
Um mundo melhor é possível!
DEUS NÃO EXCLUI NINGUÉM.

Evangelho deste domingo: Mt. 15, 21-28.
Jesus é surpreendente! É amigo da mulher. Não a discrimina, como era comum no seu tempo. Tempo no qual ela era vista como tentação e pecado; submissa ao pai, ao marido; excluída da sociedade, do culto; fonte de impureza, discriminada também juridicamente!
Rompendo com esta situação, Jesus acolhe a mulher, aceita-a como sua discípula, dá-lhe dignidade e os mesmos direitos que os homens... Até mesmo uma não-judia – uma cananéia (Evangelho de hoje) – acaba sendo não só aceita por ele, mas atendida na sua fé (sua filha é curada por ele) e elogiada.
Comentando essa passagem evangélica, o grande biblísta e teólogo espanhol, José Antonio Pagola, observa:
“... A vontade desta mulher coincide com a de Deus, que não quer ver ninguém sofrer. Comovido e admirado pela confiança dela, diz-lhe assim: “Mulher, grande é tua fé; faça-se como tu queres”. A fé grande desta mulher é um exemplo para os discípulos de “fé pequena”. Mas o mais surpreendente é que o próprio Jesus se deixa ensinar e convencer por ela. A mulher tem razão: o sofrimento humano não conhece fronteiras, pois está presente em todos os povos e religiões. Embora a missão de Jesus se limite a Israel, a compaixão de Deus deve ser experimentada por todos os seus filhos e filhas. Contra tudo o que se possa imaginar, de acordo com o relato, esta mulher pagã ajudou Jesus a compreender melhor sua missão”.
Hoje é, também, DIA DOS PAIS. Dizem sociólogos contemporâneos que vivemos, atualmente, numa sociedade sem pai. “Pai já era”! Que tal, então, refletirmos sobre o Deus de Jesus Cristo, esse, sim, verdadeiramente PAI, ou melhor, Abbá (papai), porque é solícito para com todos os seus filhos e suas filhas; é bondade, compaixão; porque é presença e proximidade constante na vida de todos e de todas; porque respeita as decisões de seus filhos e suas filhas (Cf. Filho Pródigo!) e perdoa a todos e todas incondicionalmente. Nesse Deus Pai, todos podemos confiar inteiramente. É Deus da Vida!


Pe. Francisco de Assis Correia.
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.
DGAE - 2011

Pe. Francisco de Assis Correia

Esta sigla DGAE – 2011 significa Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015, documento 94 da CNBB, aprovado no dia 09 de maio de 2011.
Trata-se de um texto inspirador para a elaboração dos planos de pastoral das Dioceses do Brasil, sugerindo sempre que sua ação pastoral passe da manutenção para a criatividade, da conservação para uma pastoral decididamente missionária.
O ponto de partida é Jesus Cristo – sua pessoa e sua prática.
Duas atitudes são importantes para o seu objetivo: alteridade e gratuidade.
Alteridade: “se refere ao outro, ao próximo, àquele que, em Jesus Cristo, é meu irmão ou minha irmã, mesmo estando do outro lado do planeta...” (nº 8).
Gratuidade: “À semelhança de Cristo Jesus que, saindo de si foi ao encontro dos outros, nada esperando em troca (cf. Fl 2, 5ss)...” (nº 9).
O referido documento, depois de afirmar que vivemos “uma mudança de época”, com relativismo e fundamentalismo, indica urgências evangelizadoras:
- Igreja em Estado Permanente de Missão;
- Igreja: Casa da Iniciação à Vida Cristã;
- Igreja: Lugar de Animação Bíblica da Vida e da Pastoral;
- Igreja: Comunidade de Comunidades;
- Igreja a Serviço da Vida Plena para Todos.
Como resumiu bem, o Pe. Prof. Dr. Vitor Galdino Feller, de Florianópolis: “Na primeira e na última dessas urgências, como que uma moldura para as outras três, percebe-se que a Igreja deve estar voltada para fora, para a missão, para a encarnação no mundo, o diálogo com a sociedade, o encontro com as culturas, o serviço dos pobres, a transformação da realidade. Nas outras três, a Igreja deve estar voltada para Deus, para o mistério da graça que lhe é dada, a força que lhe vem da Palavra e dos sacramentos” (FC – agosto 2011, p. 64).
A essas urgências, correspondem igualmente, com o mesmo título, cinco perspectivas de ação.
O que se pretende é uma Igreja “em estado permanente de missão”, o que requer: conversão pastoral, atitudes de iniciativas de auto-avaliação, mudança de estruturas pastorais, novos métodos; uma Igreja a serviço da vida para todos, com todos os desdobramentos desta opção; uma Igreja de discípulos, com muita formação; uma paróquia, rede de comunidades...
O Pe. Prof. Dr. Agenor Brighenti, tratando destas DGAE, no Encontro de Estudo e Debate, em Brasília (CNBB), no dia 2 do corrente, entre outras coisas, afirmou:
“A Igreja no Brasil clama pela superação de uma fé restrita a práticas religiosas fragmentadas, feita de adesões parciais e participação ocasional. As DGAE podem ajudar a superar o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas, na verdade, a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez”.
Para o Pe. Prof. Dr. Paulo Süess, missiólogo e assessor teológico do CIMI, em sua análise das DGAE – 2011, “a urgência das DGAE – 2011 aponta, como uma espécie de PAC (Programa de Aceleração dos Católicos) eclesial apenas para a velocidade, não para o caminho. Pela falta de recursos e agentes de pastoral nas periferias das nossas grandes cidades, os ministros que restam se tornaram, muitas vezes, missionários e missionárias de Fórmula 1, sobrecarregados com tarefas e distâncias. Estão “na onda” da aceleração exigida pelo mercado e agora pelas DGAE”!
Nos Objetivos gerais de 2011, em “seu mundo nitidamente introvertido”, a Igreja gira em torno de si mesma e perdera, aparentemente, o horizonte da “libertação integral do homem” (1979) e da “construção de uma sociedade justa e solidária” (2008).
“Opção preferencial para os pobres está no último lugar possível e seu conteúdo fica aquém da proposta de Aparecida”.
A realidade atual é “descrita com certo pessimismo”.
Os “sinais dos tempos” não têm conteúdo!
Até os sete passos metodológicos propostos pelas DGAE – 2011, nem sempre são seguidos nas mesmas!
E conclui:
“Aonde vais, Igreja? Não estamos indo por aí, sem rumo. As reais urgências e os verdadeiros anseios do povo de Deus revelam-se nas entrelinhas das DGAE: a Igreja profética, o reconhecimento da alteridade, a gratuidade da missão e a fidelidade a Jesus Cristo crucificado e ressuscitado no meio do povo. Aí se encontra a possibilidade de a Igreja no Brasil interromper a fuga e ser, o que deve ser: “expressão da encarnação do Reino de Deus no hoje de nossa história” (nº 141).
Entrementes, o que se vê por aí é um pulular de devocionismo pré-conciliar, “novenismo”, emotivismo, sentimentalismo, triunfalismo, mãos-levantadas, alfaias rendadas, “casulismo” até para benzer carros... e deixa as DGAE “prá lá”...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A FIGURA DO PAI, HOJE

Pe. Francisco de Assis Correia.

A celebração do Dia dos Pais oferece-nos a oportunidade de refletir sobre a figura do pai, hoje.
Alguns especialistas em família e terapeutas familiares sublinham que a figura do pai, na pós-modernidade, desapareceu: “vivemos numa sociedade sem pai”, “não há mais lugar para pai, na sociedade de hoje”, “pai é brega”, etc...
O que aconteceu?
A mudança da mulher, trabalhando fora de casa, assumindo, às vezes, sozinha as despesas da casa, dirigindo a família, etc... revela que o pai perdeu seu lugar de provedor da casa e de chefe da família. Hoje, todos são responsáveis pelo êxito ou pelo fracasso da família. Deste modo, as relações entre as pessoas na família tornaram-se mais horizontais, igualitárias.
Do pai, espera-se sua presença em casa, na vida de sua esposa e de seus filhos; acompanhamento dos mesmos na escola, nos brinquedos; diálogo aberto, franco, sincero; abertura para as outras famílias, para a sociedade e seus anseios. Vontade de ser mais e partilhar a vida com tudo o que ela tem e traz surpreendentemente.
Apoiado na fé em Deus Pai, esforça-se para tornar sua família uma comunidade de vida e de amor e trabalha para que outras famílias possam, também, assim se tornarem.

PASTORAL DA FAMÍLIA

Pe. Francisco de Assis Correia.

Pastoral Familiar é de ambiente rural: não levava em conta as macroestruturas, não dava importância aos conflitos sociais como fatores responsáveis por conflitos familiares, acreditava nos efeitos dos bons sentimentos, como também dos bons conselhos. Dava pouca importância à pastoral de conjunto (Frei Antônio Moser, ofm)!
Pastoral da Família pretende responder ao ambiente urbano, complexo, com seus conflitos sociais, etc, não isoladamente, mas numa pastoral de conjunto.
A CNBB publicou o Diretório de Pastoral Familiar, em 2005 (Doc. nº 79), em duas óticas: uma mais explicativa e outra mais formativa e pastoral, oferecendo critérios para a mesma e que não podem ser ignorados.
Da mesma CNBB, lembro que a Comissão Nacional da Pastoral Familiar publicou: Pastoral Familiar na Paróquia: guia de implantação e o Guia de Preparação para a Vida Matrimonial: Encontros para Noivos.
Com uma competente e dedicada assessoria do pároco, juntamente com uma equipe de casais motivados e dispostos ao trabalho, pode-se criar uma Pastoral Familiar eficiente, pró-ativa e criativa a favor das famílias, da comunidade e da sociedade.
O que não se pode é fazer-de-conta, parado no tempo e fugindo dos angustiosos e urgentes problemas das famílias!
XIII CONGRESSO NACIONAL DA PASTORAL FAMILIAR

Pe. Francisco de Assis Correia.

O XIII Congresso Nacional da Pastoral Familiar que acontecerá em Belo Horizonte, entre os dias 19 a 21 de agosto deste ano, tem como tema: “Família, Pessoa e Sociedade” – o mesmo da Semana da Família deste ano – e, como lema: “Somos Cidadãos e Membros da Família de Deus” (cf. Ef 2, 19).
A proposta é “ser um momento de formação e partilha de experiências que alicercem o trabalho da Pastoral Familiar nas dimensões do pertencimento à família na atualidade”.
Gosto de lembrar a definição de Pastoral Família dada pelo Frei Antônio Moser, ofm:
“... nascida no contexto urbano, julga que é neste nível que se implantam as raízes dos fatores mais deletérios que atuam sobre a família e sua estabilidade. (...). Sem negar que haja causas pessoais, aponta os conflitos sociais como forças que acirram os conflitos familiares; (...) percebe os sentimentos como resultantes de situações reais, que devem ser enfrentadas e resolvidas para que os comportamentos possam mudar efetivamente; (...) compreende-se inserida num processo de atuação conjunta, onde várias pastorais, sem perder sua especificidade, se iluminam e se reforçam mutuamente” (cf. Teologia Moral: questões vitais. Petrópolis: Vozes, 2004, pp. 76 – 94).
Não é, simplesmente, ter casais que, ocasionalmente, se reúnem na igreja para uma missa, para a Semana da Família, ou, até mesmo, reúnem-se em equipes, mas não têm nenhuma reflexão, nenhum roteiro, nenhuma assessoria... Nem mesmo, a Pastoral da Família resume-se em ter “movimentos familiares” na paróquia, ou, na Arquidiocese... Ela deve estar inserida na Pastoral de Conjunto!
Voltarei oportunamente ao assunto!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

28 ANOS SEM TRISTÃO DE ATHAYTE

Pe. Francisco de Assis Correia.

O pseudônimo Tristão de Athayte veio de 1919, quando Alceu Amoroso Lima – seu nome verdadeiro – começou a escrever uma coluna de crítica literária – chamada Bibliografia, em O JORNAL, no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu aos 11 de dezembro de 1893.
Convertido ao catolicismo em 15 de agosto de 1928, tornou-se o leigo mais expressivo, militante e profundo pensador da Igreja Católica, no século XX, no Brasil. Ligado ao Centro Dom Vital e à revista A ORDEM, “defendeu os interesses católicos junto ao Estado, atendendo ao pedido de Dom Leme”. Iniciou, em 1929, a Ação Universitária Católica (AUC), mais tarde, transformada na JUC (Juventude Universitária Católica), em 1950. Difundiu a Liga Eleitoral Católica (LEC). Inspirou o Partido Democrata Cristão brasileiro (1945), a exemplo do que, na época, ocorria com Eduardo Frei no Chile, Emanuel Ordoñes na Argentina e Dardo Régules no Uruguai.
Publicou muitas obras sobre os mais variados assuntos, sempre com horizontes abertos, sem fronteiras e com muita clarividência.
Tive a imensa satisfação de entrevistá-lo pessoalmente no Seminário Central do Ipiranga em São Paulo para o mural “Seminário, Urgente” e, depois, em 1967, no Colégio Pio Brasileiro, em Roma, quando fez aos alunos deste estabelecimento uma palestra sobre o momento brasileiro da época.
Tristão de Athayte faleceu aos 89 anos, em Petrópolis – RJ, no dia 14 de agosto de 1983.
Lembro-me de que algum tempo antes desta data, Luís Buñuel, famoso diretor de cinema espanhol, radicado no México e célebre ateu, perguntado se tinha medo da morte, confirmou e confessou ser ela um absurdo, “um caminhar para a destruição, para o nada, pois nada há depois da morte”.
Tristão de Athayte, na mesma época, respondeu bendizer o dia de sua morte. Partiria para a Vida Plena, Eterna... para a Ressurreição.
Relembrando, hoje, sua vida, sua fé, sua militância, peçamos a Deus, conceda-nos leigos como ele: militantes, inteligentes, de largos horizontes e de fé a toda prova, movidos pela esperança, vivida no amor.
Há pouco mais de um mês, falecia sua filha, a abadessa beneditina Madre Maria Teresa, do mosteiro de Santa Maria, em São Paulo, a quem escreveu, estivesse onde fosse, carta diária, durante mais de trinta anos!
Elas estão coletadas em dois volumes pelo Instituto Moreira Salles (IMS), sob o título de Cartas do Pai (2003).
A respeito dessas Cartas, Frei Betto afirmou: “... como homem de visão que era, tinha plena consciência de que não escrevia apenas à filha, escrevia à história, como testemunho de uma vida – a dele, tão intensa e rica – e de uma época”!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A FOME NO MUNDO

Pe. Francisco de Assis Correia

Artigo de Esther Vivas – membro do Centro de Estudos sobre Movimentos Sociais da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, Espanha, intitulado “Os Porquês da Fome” (cf. IHU, 01/08/2011) revela que: a fome não é uma “fatalidade inevitável. As causas da fome são políticas”!
Somos, no mundo, cerca de 7 bilhões de seres humanos. A comida produzida no mundo de hoje dá para 12 bilhões!
O que que acontece? Acontece que comida virou mercadoria, negócio, especulação.
Os países em desenvolvimento dependem dos países desenvolvidos que, por sua vez, compram, abaixo preço, dos países produtores que, uma vez, industrializados, chegam até a comprar dos países pobres, as suas melhores terras para produzir e exportar alimentos, o que tem ocorrido, por exemplo, no Suldão!
A competição desleal com os produtos dos países pobres é outro fator.
A especulação financeira com as matérias primas... as bolsas de valores que determinam os preços dos alimentos (Chicago, Londres, Paris, Amsterdam, Frankfurt...).
Segundo Mike Masters, 75% do investimento financeiro do setor agrícola é de caráter especulativo. Especula-se com a comida!
A fome no mundo é resultado da “globalização ao serviço dos interesses privados”!
Segundo a ONU, “a fome é um problema político. É uma questão de justiça social e de políticas de distribuição”.
O artigo conclui que: “se queremos acabar com a fome no mundo é urgente apostar noutras políticas agrícolas e alimentares que coloquem no seu centro as pessoas, as suas necessidades, aqueles que trabalham a terra e o eco-sistema”.
Por feliz coincidência, o artigo publicado pela IHU sobre a fome, saiu publicado após o evangelho proclamado ontem (31/07/2011): o da multiplicação dos pães e dos peixes (18º Domingo do Tempo Comum)!
Jesus multiplicou os pães e os peixes! Foram distribuídos sem corrupção, sem improbidade administrativa, sem desculpas de gastos, sem intermediários, sem propinas, sem burocracia... E ainda, com as sobras, encheram-se 12 cestos.
Trata-se de partilha entre irmãos!
Onde ela acontece, não há fome nem miséria...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O BOM JESUS DA LAPA DE JARDINÓPOLIS (1913-2011)

Pe. Francisco de Assis Correia.

A festa do Bom Jesus da Lapa de Jardinópolis surgiu a partir de uma mulher humilde, simples, baiana de Cordeúba, de vida bastante conturbada e nada conforme os preceitos da Igreja. Seu nome de Batismo era Juventina Pereira do Nascimento, mas ficou conhecida como Pequena do Nascimento ou, simplesmente, Dona Pequena, falecida em Jardinópolis – SP, a 17 de setembro de 1950. Baiana devota do Bom Jesus da Lapa da homônima cidade da Bahia, trouxe essa devoção para Jardinópolis. O início foi doméstico, em sua própria casa, no local onde, hoje, localiza-se o Lar São Vicente de Paulo (rua Prof. Euclydes Berardo, nº 67). Depois, passou-se a uma pequena capela perto da Curva da Morte, mais ou menos onde há a rotatória do Sagrado Coração de Jesus e, por fim, em 1919, estabeleceu-se definitivamente no local onde se encontra atualmente.
No início, a festa teve oposição de vizinhos (barulho, arruaça, etc) e de fazendeiros (trabalhadores de fazenda ficavam na cidade e não iam trabalhar na colheita de café).
Depois, começou também a oposição da Igreja, porque a festa estava nas mãos de uma mulher fora dos padrões exigidos e, além do mais, contrariando os Regulamentos paras as Festas da Diocese de Ribeirão Preto, datados de 19 de março de 1918.
Em 3 de agosto de 1928, Dom Alberto José Gonçalves, Bispo de Ribeirão Preto, estabeleceu o Interdito Proibitório da Festa. Não adiantou.
O Vigário Pe. Jayme Noguera chegou a promover a Festa da Lapa na matriz. Mas não conseguiu com isso acabar com a da Pequena.
Nem mesmo a ameaça da excomunhão (06/07/1934) aos freqüentadores e colaboradores da festa da Pequena obteve êxito!
Aos 31 de julho de 1935, com a ajuda de políticos do Partido Republicano Paulista, tendo à frente o Dr. Mário Lins, fechou-se o acordo entre a Diocese e a Pequena do Nascimento.
A partir daí, a Festa da Lapa tornou-se, então, Festa “legalizada” da Paróquia, tendo à sua frente o Vigário e uma Comissão especial para ela, aprovada pela Cúria Diocesana!
A capela foi elevada à categoria de Santuário, por Dom Arnaldo Ribeiro, então Arcebispo Metropolitano de Ribeirão Preto, aos 27 de novembro de 2005 e sua instalação oficial deu-se em 20 de maio de 2006.
O CULTO DO BOM JESUS

Pe. Francisco de Assis Correia.

6 de agosto lembra: festa da Transfiguração do Senhor, a bomba atômica sobre Hiroshima no Japão e o culto do Bom Jesus.
Neste culto, como sublinhou Riolando Azzi, quatro eventos da vida de Jesus Cristo são evocados pelos devotos do Bom Jesus: “a coroação de espinhos e a flagelação de Cristo; o caminho doloroso em direção ao Calvário; a morte na cruz, e, por último, o seu sepultamento”.
Cada evento deste tem um (ou vários) nome: Bom Jesus da Cana Verde, “Ecce Homo” (Eis o Homem); Senhor dos Passos; Senhor do Bom Fim (ou seja, “o Senhor que encerra a sua missão redentora sobre a terra”) ou, Bom Jesus da Lapa; e o Senhor Morto.
Para o povo, “todas as imagens... são consideradas vivas, isto é, portadoras de graça, vida e saúde para os devotos”.
Segundo Riolando Azzi, nestas devoções, há a paixão sofrida por Cristo e sua Compaixão pelo povo.
Outros vêem nesta e noutras devoções populares, longe de ser alienação e ópio, resistência para sobreviver e enfrentar as dificuldades e os obstáculos da vida.
Ou, “se Jesus sofredor ajuda as pessoas a suportarem o peso dos sofrimentos da vida, não falta, também, por vezes, a denúncia daqueles que idolatram o poder e a riqueza”.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

HIROSHIMA NUNCA MAIS

Pe. Francisco de Assis Correia

Dia 6 de agosto, na liturgia da Igreja Católica, é dia da Transfiguração do Senhor, ou seja, da memória daquilo que aconteceu no Monte Tabor (segundo a tradição): Jesus manifestou-se aos discípulos em todo o esplendor da vida divina!
Mas, a mencionada data, lembra, também, o que aconteceu em 1945 no Japão: a desfiguração (e morte imediata de 130 mil pessoas) causada pelo lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima!
É inevitável, entretanto, a lembrança, tão presente e inapagável de Fukushima, igualmente no Japão (11/03/2011): o terremoto, o “tsunami” e a radiação do vazamento de suas usinas atômicas!
De Hiroshima ressoou o urgente imperativo de se ter um mundo sem armas nucleares! No mundo atual, existem 20 mil, localizadas em 111 lugares, em 14 países!
“Visto de um ponto de vista jurídico, legal, político, de segurança, além de tudo, moral, não há nenhuma justificativa para continuar mantendo armas nucleares”, afirmou recentemente Dom Francis Chullikatt, representante do Vaticano na ONU.
De Fukushima, veio o alerta – como profetizou o texto da Campanha da Fraternidade deste ano – de que “a energia atômica continua ameaçadora por causa das contaminações possíveis em vazamentos e com seu lixo” e, no que diz ao Brasil, propôs “provocar e/ou reforçar a mobilização da sociedade brasileira para exigir, do governo federal, uma política energética que tenha o sol, o vento e as ondas do mar como fontes prioritárias”.
Bem disse Kenzaburo Oe, prêmio Nobel de Literatura: “desenvolver a energia nuclear no Japão é uma traição às vítimas de Hiroshima. Mas talvez Fukushima seja o ponto de virada, não apenas para o Japão, mas para o resto do mundo também”.
Revendo o filme de Kiyoshi Kurosawa, Kairo (2001) – uma visão hiperrealista do que aconteceu em Hiroshima – ele nos assusta (Kairo quer dizer circuito, cerco...) e leva-nos à pergunta: Temos futuro?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

FUNDAMENTALISMO E INTOLERÂNCIA

Pe. Francisco de Assis Correia.

Causaram surpreendente impacto no mundo os atentados ocorridos na Noruega, por ser país de imensa tranqüilidade e alto nível de vida! Quem poderia imaginar que um norueguês mesmo fosse cometê-los?
A primeira versão logo acusou um grupo terrorista islâmico! Pobres muçulmanos. “Tudo eles?”
Depois, descobriu-se o verdadeiro autor. Tão próximo. Tão de casa!
Ele é fundamentalista, intolerante, de extrema direita.
Como fundamentalista ou radical só aceita o que está escrito literalmente. Por isso é intolerante. Não admite o diferente, o pluralismo e a diversidade.
Como extremista de direita é contra o partido trabalhista da Noruega, o estrangeiro, principalmente islâmico.
O pior é que parece crescer, cada vez mais, esta tendência na Europa, como afirma o respeitado professor de Cambribge, T. J. Winter, para quem a ameaça nasce no Ocidente e não no Oriente, dadas as “tendências políticas de direita e convicções antimuçulmanas” e, ainda, de tipo neonazista!
Enquanto isso, há quem acredite firmemente na possibilidade de cristãos e muçulmanos conviverem em paz!
Trata-se, por exemplo, da mesquita, na Jordânia, dedicada ao “Profeta Jesus”. Seu imã explicou que “a mesquita quer levar uma boa notícia de convivência e de tolerância”!
Há, ainda, na mesma Jordânia, “A Fraternidade do Sermig” que quer o diálogo entre cristãos e muçulmanos, através da partilha de vida!
Belos exemplos de superação do fundamentalismo e da intolerância hodiernos.
SEMANA NACIONAL DA FAMÍLIA

Pe. Francisco de Assis Correia.


De 14 a 20 de Agosto, celebra-se a 15º edição da Semana Nacional da Família.
Ela é promovida pela Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Comissão Nacional da Família.
Este ano, discuti-se: “Família, Pessoa e Sociedade”.
É a Hora da Família 2011.
O subsidio traz sugestões de celebrações, reflexões sobre o Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia do Catequista, Dia do Nascituro, etc...
Segundo Dom João Carlos Petrini, presidente da Comissão Pastoral para a Vida e a Família, esta semana deve ser celebrada como uma festa, pois:
“Quando uma família cristã faz festa, celebra o dom da vida e o dom da fé que cada um recebeu, festeja o dom do amor entre marido e mulher, o dom da maternidade e da paternidade, o dom do sacramento do matrimônio e, portanto, o dom que é a presença de Jesus Cristo na convivência familiar”.
Este é o ideal que se almeja na Pastoral Familiar.
Há, ainda, sugestões para as escolas trabalharem sobre a realidade e os valores da família; para as comunidades promoverem estudos e palestras sobre os valores da família; para se ouvirem testemunhos de casais; para celebração eucarística com todos os casais; para vigílias; para fórum da família; para teatro com o tema: “Família, Pessoa e Sociedade”, etc.
Da minha parte, sugiro que se veja o filme “A Árvore da Vida” (cujo lançamento, no Brasil, está previsto para 12/08/2011), em cuja sinopse, lê-se:
“Conta a história que aproxima o foco na relação entre pai e filho de uma família comum, e expande a ótica, desta rica relação, ao longo dos séculos, desde o Big Bang até o fim dos tempos, em uma fabulosa viagem pela história da vida e seus mistérios, que culmina na busca pelo amor altruísta e o perdão”.

terça-feira, 26 de julho de 2011

COMPAIXÃO E SOLIDARIEDADE

Evangelho deste domingo: Mateus 14, 13-21.
Trata-se da multiplicação dos pães: Jesus encontra-se no deserto, acompanhado de uma multidão sem alimento e ordena a seus discípulos que providenciem o alimento.
Na narração de Mateus, Jesus aparece como o sucessor de Moisés, capaz de alimentar o povo com alimentos de vida e de conduzi-lo para a terra prometida. Ele é o novo Moisés: oferece um maná superior ao de Moisés, triunfa sobre as águas do mar como Moisés, liberta o povo do legalismo no qual sucumbira a Lei mosaica e abre caminho para a Terra Prometida a todos, sem distinção.
Jesus teve compaixão da multidão, curou seus doentes e multiplicou os pães. Compaixão não se confunde com dó, pena, dolorismo. “Na compaixão busca-se uma identificação com a dor do outro; é sentir junto, sofrer em comunhão”.
Jesus solidarizando-se com a multidão faminta, “destaca que é preciso dar de comer a quem tem fome e ressalta que eles comeram e se saciaram (Mc 6,30-44;...); mostrando que aquele que dá de comer ao faminto encontra o homem e o Filho do Homem (Mt 25, 35-40)”.
Jesus mostra-nos que Deus é um Deus da Vida e está a favor da vida dos homens. Indica-nos que é necessário reconquistar a vida, continuamente, contra a presença da fome, da morte, da opressão.
Aquele que “veio para dar vida e vida em abundância” convida-nos a trabalhar para que todos tenham condições de vida. Para esta missão, é necessário haja, em primeiro lugar, compaixão para com os famintos, com o drama da miséria, com as conseqüências das doenças, do problema da moradia, do trabalho...
É Necessário que vejam estas realidades a partir da vida das pessoas, isto é, a partir da ótica dos necessitados.
Alguém afirmou, em relação à fome, ser ela “o maior e o mais triste dos problemas. A fome já não está matando a longo, mas a curto prazo. Elimina sobretudo boa parte da população infantil”.
A solidariedade com os famintos, hoje, deve expressar-se na partilha dos recursos e na busca conjunta com os pobres dos caminhos condutores de uma vida, onde não haja famintos e onde quem tem comida de sobra não se dê ao luxo do desperdício, mas saiba repartir o pão com quem tem fome.
O caminho da multiplicação dos pães, hoje, passa necessariamente pela justa distribuição dos bens.
“Jesus não apenas faz o milagre da multiplicação dos cinco pães e dos dois peixes. O texto evangélico insiste no fato de dar. Jesus dá o pão e os peixes aos apóstolos e estes, por sua vez, os dão à multidão (Mt 14,19).
Esta insistência no dar possui grande significação. O verdadeiro milagre que pode ser sempre repetido e deve constituir a prática constante dos homens é a economia do dom e da solidariedade, mediante a repartição de todos os bens materiais. Se houvesse compaixão, partilha e capacidade de doação, não haveria pobres” (L. Boff).



Pe. Francisco de Assis Correia.
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A PARÁBOLA DO SEMEADOR

Evangelho desse domingo: Mt 13, 1-23.
Trata da parábola do semeador e da semente.
Um atualíssimo livro sobre Jesus Cristo – Jesus, Aproximação Histórica (Petrópolis: Vozes, 2010), do teólogo e biblista espanhol José Antonio Pagola, a certa altura, apresenta Jesus como “Poeta da Compaixão”. Por isso, serviu-se de parábolas como caminho para “entrar” em sua experiência do Reino de Deus! As fontes cristãs conservaram cerca de quarenta parábolas!
Estas traduziam a experiência de vida de seus ouvintes (camponeses e pescadores) e podiam ajudá-los a abrir-se ao Reino de Deus.
Nesta parábola, a semente representa a palavra. O semeador é Cristo. Os diferentes tipos de terreno representam os diferentes tipos de ouvintes e suas variadas disposições ou atitudes.
Padre Antonio Vieira, no seu Sermão da Sexagésima (na verdade, um tratado sobre a oratória sacra), explicando esta referida parábola, afirmou: “O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo, que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias, e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados e seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam, e nestes é pisada a palavra de Deus, porque ou a desatendem, ou a desprezam. Finalmente a terra boa são os corações bons, ou os homens de bom coração, e nestes prende e frutifica a palavra divina com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um”.

Pe. Francisco de Assis Correia.
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A RADICALIDADE DE JESUS

Evangelho deste domingo: Mt 10, 37-42.
Àqueles (as) que esperam um Jesus adocicado, surpreende o Evangelho deste domingo pela sua radicalidade!
Como pode Jesus exigir: que Ele seja amado acima do amor aos nossos pais, dos nossos filhos? Que tomemos a nossa cruz para segui-Lo? Que percamos nossa vida por causa Dele?
Surpreende e até desconcerta, hoje, como no seu tempo!
O que ele quis dizer com isso?
Quer dizer que seus seguidores devem estar comprometidos com o Reino de Deus que Ele anuncia estar presente e que só o Reino de Deus é absoluto. Esta paixão pelo Reino e sua justiça deve também ser a do (a) discípulo (a). Nada além disso, deve deter seus seguidores!
É para essa radicalidade de Jesus, que nós, cristãos e cristãs precisamos estar voltados. É esta radicalidade, justamente, com o amor, que deve ser o critério de revisão de nossas vidas! Tudo o mais, então, torna-se relativo, secundário.
Por fugirmos desta radicalidade, invertemos o critério fundamental e nos escondemos em questões secundárias e até distantes da vida cristã, como fariseus do século XXI.
Esquecêmo-nos de que a prática é o indicativo da correta vida cristã e esta situa-se na vida diária.
Sob este prisma, vale a pena conferir o admirável filme Homens e Deuses, de Xavier Beauvois, que trata da radicalidade da vida cristã vivida pelos monges trapistas de Tibhrine, na Argélia, martirizados em 1996.
Tendo presente que a mentalidade pós moderna é “presentista”, ou seja, só pensa no presente e não no futuro (muito menos no passado), o filme leva-nos a pensar nos critérios da vida cristã, vividos no presente, com perspectiva de futuro: Reino de Deus em plenitude.
Vale a pena conferi-lo.



Pe. Francisco de Assis Correia.
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.

terça-feira, 21 de junho de 2011

PENTECOSTES.

Evangelho deste domingo: João 20, 19-23.
Pentecostes, no Antigo Testamento, era a segunda das três festas à qual todo israelita tinha que comparecer diante de Javé. No Código de Aliança (Ex. 23,16) é chamado: festa da colheita. Mas há, também, outros nomes, como: festa das primícias da colheita do trigo, festa das semanas depois dos ázimos, festa do qüinquagésimo dia (em grego: pentecosté, daí, Pentecostes), festa da alegria, da ação de graças pela abundância da colheita... Foi interpretada, a seguir, para além do seu contexto agrário, como o dia da promulgação da lei mosaica no Sinai.
No Novo Testamento, significa o dia da descida do Espírito Santo sobre a comunidade cristã, cinqüenta dias depois da Páscoa.
No texto de João, lido hoje, a comunicação do Espírito Santo está relacionada com a morte (exaltação) de Jesus por duas imagens: 1) “o ‘Paráclito’, como substituto, especializado em assistência e testemunho (parakletos significa ‘advogado’), portanto necessário aos cristãos perseguidos, em processo com o mundo”; 2) “O Espírito como água que sai da fonte da vida, presente no Jesus “exaltado” (Johan Konings).
Pentecostes, acima de tudo, é para nós a festa do Espírito Santo. É a festa Daquele que é conhecido principalmente na revelação, princípio de vida, de ordem, de beleza das coisas, de renovação da História e do coração das pessoas. É aquele que suscita, move e se compromete com os grandes processos de mudança.
Ele habita todos aqueles que amam, promovem a justiça, praticam o bem, a fraternidade, a paz.
Ele habita todos aqueles que se colocam a serviço dos irmãos.
Ele derruba todas as prepotências, onde quer que estejam, suscitando profetas e concretizando o Reino de Deus.
Ele rompe toda tendência a aprisioná-Lo dentro das esferas adocicantes do coração, numa tendência privatizadora e monopolizadora de sua ação, mostrando que seu espaço maior é a História dos homens e não o micro-espaço de movimentos fechados que nada têm de renovação e pouco de seu carisma.
Ele tira as falsas seguranças aconchegantes das classes médias e altas que O querem monopolizar nos estreitos horizontes delas, patenteando que sua ação está nas maiorias sedentas de justiça, de trabalho, de pão, de casa, de participação, de vez e de voz.


Pe. Francisco de Assis Correia.
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.
O PARÁCLITO

O evangelho deste domingo é João 14, 15-21. Este texto faz parte do primeiro discurso de despedida de Jesus, após a última Ceia. Ele exige a observância de seus mandamentos (v. 15); fala do sentido de sua oração (v. 16); promete outro Paráclito (v. 16); o conhecimento de Deus (v. 17); a inabitação de Deus em nós (v. 17).
Há, aqui, como que uma síntese de todos estes temas ao redor do mandamento do amor.
Observar os mandamentos quer dizer amar, pois tudo se resume no amor. Conhecer a Deus e a seu Filho quer dizer amar. Não se trata de um conhecimento intelectual, mas de um conhecimento que é de comunhão e de coparticipação. É permanecendo neste amor que Deus nos dá o Espírito Paráclito.
Paráclito quer dizer, originalmente, “aquele que é chamado, no campo jurídico, para ajudar e defender um acusado no processo”; quer dizer “auxiliador”, “defensor”. É o próprio Espírito Santo. Como sal, nos conserva. Como fogo, nos purifica e consolida.
Paráclito que confere a infalibilidade à Igreja, opondo-a à mentira, à estagnação. À perda de sua identidade, ao conformismo, ao isolamento.
Paráclito, sustentador da Igreja, ajuda da Igreja para que não seja nunca abandonada da verdade de Deus, de seu Filho, de sua missão, da pessoa humana e de toda história.
Paráclito que está em todos os que, de coração reto, seguem a Cristo, guardam sua palavra, esforçam-se por uma renovação e transformação pessoal e estrutural.
Um bispo ortodoxo, por ocasião do Conselho Mundial das Igrejas, em Uppsala (1968), disse sobre a operação do Espírito Santo na Igreja de Deus: “Sem o Espírito Santo, Deus fica longe, Cristo se situa no passado, o evangelho é letra morta, a Igreja apenas uma organização, a autoridade somente domínio, a missão só propaganda, o culto, um exorcismo, e o comportamento cristão uma moral de escravos. Mas com ele, o cosmos se eleva e geme com gemidos de parto do Reino, o Cristo ressuscitado está presente, o evangelho é a força da vida, a Igreja significa a comunhão trinitária, a autoridade é serviço libertador, a missão um Pentecostes, a liturgia memorial e antecipação, e o agir humano é glorificado”.

Pe. Francisco de Assis Correia.
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.
DOMINGO DO BOM PASTOR

O 4º domingo da Páscoa é chamado “do Bom Pastor”, porque o evangelho proclamado, neste dia, é sempre extraído da autoapresentação de Jesus como Bom Pastor.
O texto de hoje fala de Jesus Cristo como Porta e Pastor.
Como Porta: essa tem duas finalidades: permite a passagem das pessoas da casa e impede o ingresso dos estranhos, ladrões. Assim é Jesus.
Como Pastor: ele é guia. Ele conhece suas ovelhas e as chama pelo nome. Para ele, não há massas anônimas.
Ele é Bom Pastor porque dá a vida por suas ovelhas. Escutar a sua voz e segui-lo é colocar-se, pois, na defesa da vida, da integridade e da dignidade das pessoas. É interessar-se pelo bem de todos e da natureza.
Neste domingo, ligado ao Bom Pastor, celebra-se, igualmente, o 48º Dia Mundial de Oração pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas, com o tema: “Propor as Vocações na Igreja Local”, isto “significa ter a coragem de indicar, através de uma pastoral vocacional atenta e adequada, este caminho exigente do seguimento de Cristo, que, rico de sentido, é capaz de envolver toda a vida”.
Na Arquidiocese de Ribeirão Preto, desde a década de 1940, iniciativa de Dom Manuel da Silveira D’Elboux, existe a Obra das Vocações Sacerdotais e – faz-se mister lembrar – neste ano o Seminário de Brodowski completa 50 anos de sua inauguração e serviço a esta causa, cometimento de Dom Luís do Amaral Mousinho.
E mais! Hoje, igualmente, celebra-se o cinqüentenário da publicação da Encíclica do Papa João XXIII, Mater et Magistra (15/05/1961 – 15/05/2011).
Ela afirmou a função social da propriedade, advogou uma política de apoio à agricultura familiar e ao cooperativismo, definiu o bem comum “como o conjunto de condições que permitem e favorecem nos seres humanos o desenvolvimento integral da personalidade”, expôs as exigências da justiça nas relações entre setores produtivos e no campo da cooperação entre nações.
O documento social de João XXIII continua atual!

Pe. Francisco de Assis Correia.
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

1º DE MAIO

Solicitou-me nosso estimado Arcebispo Metropolitano, Dom Joviano de Lima Júnior, sss, que o substituísse nesta coluna do jornal A TRIBUNA.
Agradeço-lhe a paternal confiança e comprometo-me modestamente em cumprir filialmente a missão conferida.
Inicio no Dia Mundial do Trabalho e dos Trabalhadores! Bom dia para começar, diria Otto Lara Rezende!
O Papa João Paulo II, que hoje é beatificado em Roma, afirmou que “o trabalho humano é uma chave, provavelmente a chave essencial, de toda questão social”.
Por quê?
Porque o trabalho é uma dimensão essencial da vida de cada um, da vida familiar e da sociedade.
Da vida de cada um: porque diz respeito à atividade da pessoa, com a qual ela se realiza, mantém-se e sustenta sua família e contribui para a construção da sociedade.
Da vida familiar: porque a família vive do trabalho de seus membros: pais, filhos ...
Da sociedade: porque esta depende do trabalho de seus membros. Quando falta trabalho, a sociedade entra em crise. Vem a pobreza, a miséria...
Mas, hoje, é Dia do Trabalhador e não só do Trabalho!
Pensemos que no Brasil há muita falta de consideração pelos trabalhadores: desemprego, subemprego, sobretrabalho, flexibilização e desrespeito das leis e dos direitos trabalhistas, exploração do trabalho infantil, discriminação, trabalho escravo ...
Não precisamos ir à usina de Jirau ou Santo Antônio... Aqui mesmo, a situação é chocante e inaceitável. Vejam a situação dos trabalhadores em certas usinas, na construção civil ...

Pe. Francisco de Assis Correia
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

DÍZIMO Não é esmola. É oferta de quem, agradecido a Deus, oferece sua gratidão, para que a comunidade possa contar com os serviços do culto, da evangelização e da caridade. Com o dízimo, cada um participa também da vida da sua comunidade! É preciso que ele seja consciente, sincero, perseverante, generoso, alegre e, sobretudo, de coração! Seja você, também, um dizimista da sua comunidade. Pe. Francisco de Assis Correia

quinta-feira, 7 de abril de 2011

PE. FRANCISCO DE ASSIS CORREIA JESUS: APROXIMAÇÃO HISTÓRICA 2011 INTRODUÇÃO Este texto contém anotações e transcrições, feitas por mim, do livro de José Antonio Pagola – Jesus: aproximação histórica. Petrópolis: Vozes, 2010. A intenção é ajudar algum leitor a chegar perto deste texto. Se consegui, valeu! Pe. Francisco de Assis Correia. Março de 2011. O AUTOR Quem é José Antonio Pagola autor do Jesus: aproximação histórica? Espanhol, de origem basca, nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagrada Escritura pelo Instituto Bíblico de Roma (1965) e diplomado em Ciências Bíblicas pela Escola Bíblica de Jerusalém (1966). Foi vigário geral de sua diocese – San Sebastián –, reitor do seminário desta diocese e padre muito atuante na Pastoral. Perguntado: “você se sente presenteado ou vetado por causa de seu livro?” – dada a polêmica que seu livro provocou, inclusive com censura por parte de bispos espanhóis e sob investigação da Congregação para a Doutrina da Fé, respondeu: “Assumo tudo isso como algo esperado, a reação de alguns setores da igreja... mas não me sinto nem mártir nem profeta. Trato de ser um crente que a partir de sua paixão por Jesus trata de contribuir para uma Igreja mais evangélica a serviço de um mundo mais humano” (IHU, 01/02/2011). Por que Pagola escreveu este livro? Pagola responde na sua “Apresentação” (pp. 11-13). “Meu propósito fundamental foi “aproximar-me” de Jesus com rigor histórico e com linguagem simples para aproximar sua pessoa e sua mensagem ao homem e à mulher de hoje. Quis expor nas mãos de você, leitor e leitora, um livro que os oriente para não enveredar por caminhos atraentes mas falsos, de tanto romance – ficção, escrito à margem e contra a investigação moderna. Mas procurei muito mais. Quero despertar na sociedade moderna o “desejo de Jesus” e sugerir um caminho pelo qual se possam dar os primeiros passos em direção ao seu mistério” (p. 12). Capítulo I JUDEU DA GALILÉIA Jesus (= Javé salva) era originário da Galiléia, mais precisamente de Nazaré, na época, sob o império de Roma. Era uma região verde, fértil, agrária, altamente tributada. Nela trabalhavam os proprietários da terra e seus familiares. Havia diaristas que dependiam de salário diário e das incertezas de ter e não ter trabalho. “São os camponeses das aldeias que sustentam a economia do país” e, ainda, devem pagar alto tributo ao Império Romano; bem como os dízimos devidos ao templo de Jerusalém! “A atividade de Jesus nas aldeias da Galiléia e sua mensagem do ‘Reino de Deus’ representavam uma forte crítica àquele estado de coisas. Sua firme defesa dos indigentes e famintos, sua acolhida preferencial aos últimos daquela sociedade ou sua condenação da vida suntuosa dos ricos das cidades eram um desafio público àquele programa sociopolítico estimulado por Antípas, favorecendo os interesses dos mais poderosos e mergulhando na indigência os mais fracos” (p. 50). Na Galiléia, falava-se aramaico. Essa foi a língua materna de Jesus. Resume Pagola: “Jesus foi um galileu de ambiente rural e ensinava as pessoas em língua materna, o aramaico; conhecia provavelmente o hebraico bíblico suficientemente para entender e citar as Escrituras; talvez se defendesse um pouco em grego e desconhecia o latim” (p. 56). Capítulo II VIZINHO DE NAZARÉ A pergunta que Pagola quer responder é: “o que podemos saber de Jesus como vizinho desta pequena aldeia?” (p. 61). A sua resposta é a seguinte: Nazaré é uma aldeia pequena e desconhecida, de apenas duzentos a quatrocentos habitantes. Suas casas eram baixas e primitivas. Tinha um cômodo só. Possuíam um pórtico comum, com um pequeno moinho para cereais e forno... Jesus viveu numa destas humildes casas e captou até em seus mínimos detalhes a vida de cada dia e por isso pôde falar a partir da vida. Aí viveu sua vida religiosa, as festas de casamento, a vida de trabalho e sua entrega ao “Reino de Deus”, paixão de sua vida, à qual se entregou de corpo e alma. Aquele operário de Nazaré acabou vivendo somente para ajudar seu povo a acolher o “Reino de Deus”. Abandonou sua família, deixou seu trabalho, dirigiu-se ao deserto, aderiu ao movimento de João, depois o abandonou, procurou colaboradores, começou a percorrer os povoados da Galiléia. Sua única obsessão era anunciar a “Boa Notícia de Deus” (p. 83). Capítulo III BUSCADOR DE DEUS Segundo Pagola, tudo leva a pensar que ele (Jesus) procura Deus como “força de Salvação para seu povo. É o sofrimento das pessoas que o faz sofrer: a brutalidade dos romanos; a opressão que sufoca os camponeses; a crise religiosa de seu povo; a adulteração da Aliança” (p. 88). Depois ele é seduzido por João Batista que “põe Deus no centro e no horizonte de toda busca de salvação” (p. 90). Faz-se batizar por João, permanece certo tempo no deserto. A seguir, após a morte de João, Jesus inicia o anúncio da chegada do Reino de Deus, dedicando-se a “curar os enfermos que ninguém curava”, a “tocar leprosos que ninguém tocava”, a “abençoar e abraçar crianças”. “Todos sentirão a proximidade salvadora de Deus, inclusive os mais desqualificados e desprezados: os arrecadadores de impostos, as prostitutas, os endemoniados, os samaritanos” (p. 106). Capítulo IV PROFETA DO REINO DE DEUS Jesus volta à Galiléia e, aí, passa a ser profeta itinerante, vivendo em Cafarnaum, e se dedicando ao povo mais humilhado: “pessoas pobres, famintas e aflitas”. “Jesus não ensina na Galiléia uma doutrina religiosa para que seus ouvintes à aprendam bem. Anuncia um acontecimento para que aquelas pessoas o acolham com prazer, com alegria e com fé. Ninguém vê nele um mestre dedicado a explicar as tradições religiosas de Israel. Encontram-se com um profeta apaixonado por uma vida mais digna para todos, que procura com todas as suas forças fazer com que Deus seja acolhido e que seu Reino de Justiça e Misericórdia vá se ampliando com alegria. Seu objetivo não é aperfeiçoar a religião judaica mas contribuir para que se implante o quanto antes o tão inspirado Reino de Deus e, com ele, a vida, a justiça e a paz” (p. 115). A grande surpresa que Jesus anuncia é que “o Reino de Deus já chegou” (p. 121). “A acolhida do Reino de Deus começa no interior das pessoas em forma de fé em Jesus, mas se realiza na vida dos povos na medida em que o mal vai sendo vencido pela justiça salvadora de Deus” (p. 123). Revela que Deus é Amigo da vida (pp. 127-130), dos pobres (pp. 130-132) que “as coisas precisam mudar” (pp. 133-138), que “o melhor está por vir” (pp. 138-141). Capítulo V POETA DA COMPAIXÃO Jesus procurou traduzir o que é o Reino de Deus, recorrendo à linguagem dos poetas, inventando imagens, concebendo belas metáforas, narrando parábolas. Este é “o melhor caminho para ‘entrar’ em sua experiência do Reino de Deus” (p. 145). Isso tudo ajudava as pessoas, nas suas experiências de camponeses, de pescadores, do dia-a-dia, “a abrir-se ao Reino de Deus” (p. 149). “... aquele que entra na parábola e se deixa transformar por sua força já está “entrando” no Reino de Deus” (p. 153). “Todas elas (as parábolas) convidam a intuir a incrível misericórdia de Deus” (p. 159). Exemplo. “A do filho pródigo”! Jesus ensina, ainda, que: “o que é preciso é introduzir na vida de todos a compaixão, uma compaixão parecida com a de Deus; é preciso olhar com olhos compassivos os filhos perdidos, os excluídos do trabalho e do pão, os delinqüentes incapazes de refazer sua vida, as vítimas caídas nas sarjetas. É preciso implantar a misericórdia nas famílias e nas aldeias, nas grandes propriedades dos latifundiários, no sistema religioso do templo, nas relações entre Israel e seus inimigos” (p. 176). Capítulo VI CURADOR DA VIDA “O poeta da misericórdia de Deus falava através de parábolas, mas também de fatos” (p. 191). Jesus revelou-nos que Deus é Deus dos que sofrem (p. 191), dos que “sofrem o desamparo e a exclusão” (p. 196). Esses “encontram nele algo que os médicos não asseguravam com seus remédios: uma relação nova com Deus que os ajuda a viver com outra dignidade e confiança diante dele” (p. 199). “Mas o que mais diferencia Jesus de outros curadores é que, para ele as curas não são fatos isolados, mas fazem parte de sua proclamação do Reino de Deus. É sua maneira de anunciar a todos esta grande notícia: Deus está chegando, e os mais desgraçados já podem experimentar seu amor compassivo. Estas curas surpreendentes são sinal humilde, mas real, de um mundo novo; o mundo que Deus quer para todos” (p. 200). “O que é decisivo é o encontro com o curador. A terapia que Jesus põe em funcionamento é sua própria pessoa: seu amor apaixonado à vida, sua acolhida afetuosa a cada enfermo ou enferma, sua força para regenerar a pessoa a partir de suas raízes, sua capacidade de transmitir sua fé na bondade de Deus. Seu poder de despertar energias desconhecidas no ser humano criava as condições que tornavam possível a recuperação da saúde” (p. 202). “Jesus tem seu estilo próprio de curar. Cura com a força de sua palavra e com os gestos de suas mãos” (p. 203). Curava a pessoa de forma integral, gratuita, levando-a a confiar na bondade salvadora de Deus; reconcilia o enfermo com a sociedade; liberta de demônios. “A cura dos enfermos e a libertação dos endemoniados são sua reação contra a miséria humana: anunciam já a vitória final de sua misericórdia, libertando o mundo de um destino marcado fatalmente pelo sofrimento e a desgraça” (p. 212). Capítulo VII DEFENSOR DOS ÚLTIMOS Estes são os pobres. “mas quando Jesus fala dos “pobres”, está se referindo aos que não têm nada; pessoas que vivem no limite; os expropriados de tudo; os que estão no outro extremo das elites poderosas. Sem riqueza, sem poder e sem honra” (p. 222). Os que não têm ninguém (p. 223). Os “que não interessam a ninguém interessam a Deus; os que sobram nos impérios construídos pelos homens têm um lugar privilegiado em seu coração; os que não têm patrono algum que os defenda têm a Deus como Pai” (p.228). Podemos dizer sem medo de equivocarmos que a “grande revolução religiosa” levada a cabo por Jesus é ter aberto outra via de acesso a Deus, diferente do sagrado: a ajuda ao irmão necessitado. A religião não detém o monopólio da salvação; o caminho mais acertado é a ajuda ao necessitado. Por ele caminham muitos homens e mulheres que não conheceram Jesus” (p. 235). Jesus dá dignidade para os indesejáveis e ensina-nos que é “a compaixão e não a santidade que precisamos imitar em Deus” (p. 239). Amigo dos pecadores, dos publicanos, das mulheres... Capítulo VIII AMIGO DA MULHER Jesus, com toda liberdade, não se submeteu à visão negativa da mulher de seu tempo, nem às normas de impureza. Rompeu as barreiras. Não se fechou no androcentrismo de seu tempo. “Ele se põe no lugar das mulheres e as faz protagonistas de suas parábolas” (p. 265). Para Jesus, não há superioridade do varão e submissão da mulher. Ele quer uma família, uma comunidade, onde todos sejam irmãos e irmãs. “Uma comunidade sem dominação masculina e sem hierarquias estabelecidas pelo varão. Um movimento de seguidores no qual não há “pai”. Apenas o pai do céu” (p. 271). “O profeta do reino só admite um discipulado de iguais” (p. 276). Capítulo IX MESTRE DE VIDA Não era um mestre convencional. “É um sábio que ensina a viver respondendo a Deus” (p. 288). O Reino de Deus está chegando. É preciso “entrar” agora mesmo em sua dinâmica. Ninguém deve ficar fora. (...) A todos deverá chegar a Boa Notícia. Todos estão convidados a crer. Não encontrarão no Reino de Deus um novo código de leis para regular sua vida, mas um impulso e um horizonte novo para viver transformando o mundo de acordo com a verdadeira vontade de Deus (p. 299). “O que vai contra o amor vai contra Deus” (p. 307). “Só se vive como filho e filha de Deus vivendo de maneira fraterna com todos. No reino de Deus, o próximo toma o lugar da lei. Deixamos Deus reinar em nossa vida quando sabemos ouvir com disponibilidade total seu chamado escondido em qualquer ser humano necessitado. No reino de Deus, toda criatura humana, mesmo a que nos parece mais desprezível, tem direito de experimentar o amor dos outros e a receber a ajuda do que necessita para viver dignamente” (pp. 309-310). Amar até os inimigos! “Mas ao falar de amor, Jesus não está pensando em sentimentos de afeto, simpatia ou carinho para com quem nos faz mal. O inimigo continua sendo inimigo e dificilmente pode despertar em nós tais sentimentos. Amar o inimigo é, antes, pensar em seu bem, “fazer” o que é bom para ele, o que pode contribuir para que ele viva e de maneira mais digna” (p. 314). Para ele, a luta pela justiça não deve ser violenta! Capítulo X CRIADOR DE UM MOVIMENTO RENOVADOR “... desde o primeiro momento, Jesus rodeia-se de amigos e cobradores. A chegada do Reino de Deus está pedindo uma mudança de direção em todo povo, e isto não pode ser tarefa exclusiva de um pregador particular. É necessário pôr em marcha um movimento de homens e mulheres saídos do povo que junto com ele, ajudem os outros a tomarem consciência da proximidade salvadora de Deus” (p. 323). O “poder de atração de Jesus” foi fundamental para a formação deste grupo. A adesão a ele era cordial. Discípulos e discípulas convivem com ele, aprendem pouco a pouco a se formar uma família. Os doze escolhidos por ele “formam o círculo mais intimo em torno dele” (p. 329). “... um grupo de irmãos e irmãs que seguem seus passos para acolher e difundir o Reino de Deus. (...) Homens e mulheres que saibam viver com ele, servindo os últimos” (p. 349). Capítulo XI CRENTE FIEL “A experiência de Deus foi central e decisiva na vida de Jesus. O profeta itinerante do Reino, curador de enfermos e defensor de pobres, o poeta da misericórdia e mestre do amor, o criador de um movimento novo a serviço do Reino de Deus, não é um homem disperso, atraído por diferentes interesses, mas uma pessoa profundamente unificada em torno de uma experiência nuclear: Deus e Pai de todos. É ele quem inspira sua mensagem, unifica sua intensa atividade e polariza suas energias. Deus está no centro dessa vida. A mensagem e a atuação de Jesus não se explicam sem esta vivência radical de Deus. Se esta for esquecida, tudo perde sua autenticidade e conteúdo mais profundo; a figura de Jesus fica desvirtuada, sua mensagem debilitada, sua atuação privada do sentido que ele lhe dava” (p. 363). “Jesus gosta de chamar Deus de “Pai”. Esta invocação brota de dentro dele, sobretudo quando quer realçar sua bondade e compaixão” (p. 382). Há, das páginas 392 a 395, uma extraordinária explicação da única oração ensinada por Jesus: o Pai Nosso. Capítulo XII CONFLITIVO E PERIGOSO Jesus, fiel à sua missão, entrou em conflito com os fariseus, opôs-se às autoridades religiosas, provocou receio no poder romano, arriscou-se a ir a Jerusalém, onde fez um gesto muito perigoso (expulsou os vendilhões do templo, ou melhor, gesto simbólico de “destruição” do templo)... Antes de sua morte, organizou uma ceia de despedida com seus amigos e amigas mais próximos. “... Jesus transforma aquela ceia de despedida numa grande ação sacramental, a mais importante de sua vida, a que melhor resume seu serviço ao reino de Deus, a que ele quer deixar gravada para sempre em seus seguidores. Que continuem vinculados a ele e que alimentem nele sua esperança. Que o recordem sempre e entregue a seu serviço. Ele continuará sendo “aquele que serve”, aquele que ofereceu sua vida e sua morte por eles: o servo de todos. Assim ele está agora no meio deles naquela ceia e assim quer que o recordem sempre. O pão e a taça de vinho hão de evocar para eles, antes de mais nada, a festa final do reino de Deus: a entrega desse pão a cada um e a participação na mesma taça lhes trarão à memória a entrega total de Jesus. “Por vós”: essas palavras resumem bem o que foi sua vida a serviço dos pobres, dos enfermos, dos pecadores, dos desprezados, das oprimidas, de todos os necessitados... Estas palavras expressam o que vai ser agora sua morte: ele “desejou ardentemente” oferecer a todos, em nome de Deus, acolhida, cura, esperança e perdão. Agora entrega sua vida até à morte, oferecendo a todos a salvação do Pai” (p. 437). Capítulo XIII MÁRTIR DO REINO DE DEUS “Jesus é executado por soltados às ordens de Pilatos, mas na origem dessa execução, encontra-se o sumo sacerdote Caifás, assistido por membros da aristocracia sacerdotal de Jerusalém” (p. 458). “Jesus abandona-se totalmente à vontade de seu Pai no momento em que esta se lhe apresenta como algo absoluto e incompreensível” (pp. 477-488). Está totalmente só! “A insensibilidade e o abandono de seus discípulos o fazem mergulhar na solidão e na tristeza” (p. 478). Capítulo XIV RESSUSCITADO POR DEUS Deus o ressuscitou! “Tudo se deve a Deus. Se ele está desperto é porque Deus o despertou, se está de pé é porque Deus o levantou, se está cheio de vida é porque Deus lhe infundiu a sua. Na origem sempre subjaz a atuação amorosa de Deus, seu Pai” (p. 491). “Ressuscitando Jesus, Deus começa a “nova criação”. Sai de seu ocultamento e revela sua intenção última, aquilo que buscava desde o começo ao criar o mundo: compartilhar sua felicidade infinita com o ser humano” (p. 498). Capítulo XV APROFUNDANDO A IDENTIDADE DE JESUS “É a experiência da ressurreição que pode revelar-lhes (aos leitores) a verdadeira identidade de Jesus e o conteúdo de sua mensagem e de sua atuação” (p. 529). É o que produz a leitura dos evangelhos: Jesus é homem novo, sumo sacerdote, Senhor, Palavra de Deus encarnada, Filho de Deus...

terça-feira, 5 de abril de 2011

ATEÍSTAS DE QUAL DEUS? Pe. Francisco de Assis Correia O título supra é o da revista internacional de teologia, CONCILIUM nº 337 (2010/4). Este número trata do assim chamado “Novo Ateísmo”, surgido a partir de vários fatores: as ciências naturais que se arvoraram em negadoras da existência de Deus; o fanatismo religioso, o fanatismo etnocêntrico; o surgimento de uma espiritualidade sem Deus ou sem deuses; a autonomia e a liberdade humanas como oponentes da fé em Deus; a carência de sentido das sociedades ocidentais, etc... O que há de novo neste atual ateísmo? Alguns atribuem sua novidade ao “novo cientismo” (Alister E. McGrath), como, por exemplo, o defendido pelos “quatro cavaleiros do apocalipse”: Richard Dawkins (Deus, um delírio. Companhia das Letras), Sam Harris, Daniel Dennett e Christopher Hitchens (Deus não é grande: como a religião envenena tudo. Ediouro). Para esses autores, as ciências naturais são “o único fundamento da verdade confiável” e a crença religiosa, então, não passa de “superstição infundada”. Há teólogos que atribuem o atual ateísmo, na verdade, a uma imagem de Deus que não corresponde à imagem do Deus revelado por Jesus Cristo. É o caso, por exemplo, de Andrés Torres Queiruga. Por isso, vem muito a propósito, a pergunta: “Ateísta de qual Deus?” Este “novo ateísmo” diz respeito mais ao ocidente e, especificamente, mais ao contexto anglo-saxão. Mas como comentei, há pouco tempo atrás, também no Brasil há militantes e até associação: ATEA (Associação Brasileira de Ateus e Aguinósticos)!

quarta-feira, 30 de março de 2011

50 ANOS DA MATER ET MAGISTRA Pe. Francisco de Assis Correia No próximo dia 15 de maio deste ano, celebra-se o cinqüentenário da publicação da Encíclica do Papa João XXIII, Mater et Magistra (15/05/1961 – 15/05/2011). Esta Encíclica social tratou da evolução da questão social à luz da doutrina cristã, comemorando o aniversário dos 70 anos da “Rerum Novarum” (15/05/1891) do Papa Leão XIII. Como afirmaram os autores do Nosso Grande Segredo: Ensino Social da Igreja: Herança e Compromisso. (tradução das Vozes, 1993) – que continua sendo “segredo” – o que ensejou essa Encíclica foi a terrível exploração e pobreza dos trabalhadores da Europa e dos Estados Unidos. Passados setenta anos, João XXIII, com a “Mater et Magistra” (Mãe e Mestra), quis responder aos graves desequilíbrios existentes em todo mundo, entre ricos e pobres, internacionalizando o Ensino Social da Igreja, abordando pela primeira vez a situação dos países em vias de desenvolvimento, atribuindo ao laicato a aplicação do mesmo. Esta Encíclica usa o método Ver – Julgar e Agir, “afirma a função social da propriedade”, “advoga uma política de apoio à agricultura familiar e ao cooperativismo”, “define o bem comum como o conjunto de condições que permitem e favorecem nos seres humanos o desenvolvimento integral da personalidade” (nº 62); “expõe as exigências da justiça nas relações entre setores produtivos e no campo da cooperação entre nações” (CNBB. Temas de Doutrina Social da Igreja. Nº 2, São Paulo: Paulinas – Paulus, 2006, pp. 15-16). Comemorando a publicação da “Mater et Magistra”, Dom Luís do Amaral Mousinho, primeiro Arcebispo Metropolitano de Ribeirão Preto, proferiu conferência na Câmara Municipal desta cidade, no dia 30 de novembro de 1961 (cf. Diário de Notícias, 01/12/1961), tratando de “três pontos capitais”: “1) A pessoa e o Estado no campo econômico; 2) Capital e Trabalho; 3) Ruralismo e Desenvolvimento”. Concluiu afirmando: “... a mensagem cristã da Mater et Magistra se resume nisso: renovar os laços da vida comum entre os povos na VERDADE, na JUSTIÇA e no AMOR”.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A PROFECIA DA CF-2011
Pe. Francisco de Assis Correia
21/março/2011

O tema da CF-2011 é: Fraternidade e a Vida no Planeta.

O Tema: “A Criação geme em dores de parto” (Rm 8, 22).

O manual da CF-2011 (não contém só o texto-base), entre outras matérias relativas ao tema, é de uma atualidade profética!
Quero sublinhar, aqui, alguns pontos relativos à energia atômica, neste momento em que o Japão, além do terremoto e do “tsunami”, sofre a radiação do vazamento de suas usinas atômicas, na região mais afetada pelo caos!
O texto, com efeito, tratando das “energias sujas” justifica este nome pelas “conseqüências danosas para o meio ambiente e para a sociedade”. Entre elas está o urânio (“matéria necessária para se obter a energia por processos de fissão ou fusão nuclear”, p. 25).
Mais à frente, o texto afirma:
“A sociedade precisa se opor firmemente a iniciativas de expansão da matriz atômica, porque os seus resíduos permanecem ativos por longos anos; seria um problema que legaríamos para muitas gerações futuras” (pp. 105-106).
Pedindo que se escute, compreenda e responda ao grito da Terra, propõe que se gere energia com as fontes mais limpas possíveis e se revejam os seus usos, alerta:
“A energia atômica continua ameaçadora por causa das contaminações possíveis em vazamentos e com seu lixo” (p. 105).
A CF “propõe-se, então, provocar e/ou reforçar a mobilização da sociedade brasileira para exigir, do governo federal uma política energética que tenha o sol, o vento e as ondas do mar como fontes prioritárias. E que, ainda, esta política incentive e valorize tecnologias nacionais e a produção descentralizada” (p. 108).
E, por fim, propõe “mobilização em favor de uma prática cristã que revolucione a humanidade” (p. 170).
A hora é agora!

sexta-feira, 18 de março de 2011

A FOTOGRAFIA

Pe. Francisco de Assis Correia.
17 de março de 2011.

“No futebol a cabeça é o terceiro pé” (Sergio Porto – 1923 – 1968).

Após cinqüenta anos, “Sô” Zequinha foi rever uma fotografia preciosa que ele achava que estivesse num bar de Pontal – o do “Doca”. Mas descobriu que o mesmo já não existia. Lembrou-se, então, do Vando, antigo amigo.
Vando, agora, aos 81 anos, sapateiro caprichoso e ainda no batente (anda por todo lado de bicicleta, veículo abundante em Pontal, na mão e na contra-mão). Ao vê-lo, logo se lembrou do Zequinha. Ambos emocionaram-se, relembrando aqueles tempos de jovens e de muita garra.
“Seu” Vando informou-lhe o bar em que está a procurada foto: “o bar do Carlim”.
Pressurosos mandaram-se para lá.
Dito e feito! A fotografia estampava o time que “sempre ganhava dos outros”: o time da Usina Nossa Senhora Aparecida – Usina Bartolo Carolo.
- De Pé: Edgar, Eschiaveto, Nenê, Bié, Careca, Barbosa, João Bonard;
- Agachados: Niquinho, Vander Furlan, Zequinha, Jader, Toninho Carolo.
Ano: 1961.
Encontrar a foto foi como encontrar um tesouro! O fascínio da foto como que reuniu todos no Bar do Carlim. Cada um contava um fato: “Cê lembra aquela vez que...!” Seu Vando afirmou que “o Zequinha tinha um chute forte. Forte mesmo... Não era qualquer goleiro que segurava não! Naquele jogo, assim, assim, quem marcou o primeiro gol? Zequinha...”
Quem presenciou a cena, mesmo que não tendo conhecido os craques, contagiou-se pela emoção do “Sô” Zequinha e do “Sr.” Vando: O João Luís, filho do “Sô” Zequinha, o próprio Carlim, proprietário do bar... o que uma foto faz: traz a imagem do passado, evoca memórias, produz sentimentos e emoções... torna presente um passado, religa amigos, colegas... todo um time de futebol!
Para completar, o Carlim ofereceu-lhes cerveja, como brinde e canto de curiós...
Com razão, José Lins do Rego (1901-1957) afirmou que “o futebol é, como o carnaval, um agente de confraternidade”.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

JESUS. APROXIMAÇÃO HISTÓRICA (1)
Pe. Francisco de Assis Correia

Desde que o livro de José Antonio Pagola – um teólogo e biblista basco, nascido em Guipúzcoa em 1937 – foi lançado na Espanha, em 2007 (no Brasil, lançamento das Vozes, 2010), não parou de, surpreendentemente, causar impacto!
O livro mantém uma visão contemporânea e radical de Jesus Cristo!
O próprio Pagola diz:
“No meu livro apresento Jesus como conflitivo e perigoso. (...) Quando são conhecidas suas palavras de fogo, sua liberdade para defender as pessoas, seu projeto de uma variedade a serviço dos últimos ou sua crítica a uma religião vazia de compaixão, Jesus gera reações encontradas de atração ou de rejeição.”
Seus leitores confidenciaram-lhe que, ao ler Jesus, sentiram um Jesus mais vivo e próximo, “um sentido diferente para a sua vida”, despertando-lhes “o desejo de uma vida mais humana. Encontraram em meu livro algo que eu não coloquei”.
“A maioria me diz que se encontrou com um Jesus que nem sequer suspeitavam; alguns se sentiram chamados a repropor a sua vida com mais verdade e honestidade; muitos se sentiram libertos de medos e fantasmas religiosos que lhes fizeram sofrer muito apesar de terem se distanciado da Igreja; muitos ficam comovidos com um Deus amigo que ama com amor incrível e imerecido a todos os seus filhos”.
O êxito do livro foi enorme. Em dois meses, foram vendidos 40 mil exemplares e, logo, traduzido em várias línguas, inclusive em português pelas Vozes.
Mas a Conferência Episcopal Espanhola ordenou a retirada dos livros, o que motivou o seu autor a dizer:
“Jesus pode ser um desafio muito perigoso para a Igreja atual”!

JESUS. APROXIMAÇÃO HISTÓRICA (2)

Pe. Francisco de Assis Correia
02/02/2011

As objeções contra o livro de Pagola são:
- causa “confusão entre os fiéis comuns”;
- traz uma ruptura entre o “Jesus da história e o Jesus da fé”;
- acaba “deslegitimando o ensinamento da Igreja”;
- obra ariana;
- desfigura Jesus;
- um Jesus “muito humano”;
- um Jesus “mero profeta”;
- nega “a consciência filial divina”;
- nega o “sentido redentor dado por Jesus à sua morte”; etc...
Para o padre jesuíta Carlos Palácio – professor e pesquisador de teologia, em Belo Horizonte
“o segredo do livro de Pagola é ter conseguido transmitir ao leitor a sua paixão por Jesus Cristo, de tal maneira que através da leitura deste livro sentimos que chega a nós a “boa notícia” contagiante que ele era e transmitia”.
Para Faustino Teixeira – professor da Universidade Federal de Juíz de Fora – MG e brilhante teólogo leigo,
“Mediante a linguagem poética, Jesus, na linha dos grandes profetas, que encontrava a força e o vigor para “sacudir as consciências e despertar os corações para o mistério do Jesus vivo”.
No Jesus, revela-se “o segredo de um fascinante galileu”.
O próprio autor – José Antonio Pagola -, perguntado se sentia-se “presenteado ou vetado por causa do seu livro”, respondeu:
“Assumo tudo isto como algo esperado, a reação de alguns setores da Igreja... Mas não me sinto nem mártir nem profeta. Trato de ser um crente que a partir de sua paixão por Jesus trata de contribuir para uma Igreja mais evangélica a serviço de um mundo mais humano”.
GENÉRICO
Pe Francisco de Assis Correia
02/02/2011

O adolescente, simples, singelo, puro, refletia estado de graça de quem é amado pelos pais e se sente seguro na vida que, com ele, adolesce.
Não parece ter problema algum.
Tudo segue tranqüilo, com a maior naturalidade e normalidade.
Ele avisa o primo a respeito da hora.
Pergunto-lhe:
- O que você tem de fazer?
Responde:
- Vou ajudar meu pai.
- Ajudar no quê?
- A gravar CD.
- Prá vender?
- É.
- Então é pirataria?
- (Rindo) É. É genérico.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A JUVENTUDE E A VIOLÊNCIA.

Pe. Francisco de Assis Correia.
14/01/2011.

O subsídio da CF – 2011, em Jovens na CF (pp. 219-225), revela que o jovem brasileiro tem na Violência sua maior preocupação.
As estatísticas mostram, constantemente, que os jovens estão entre as principais vítimas da violência. É violência de todo tipo: violência resultante das drogas, violência praticada pela mídia, violência policial, violência doméstica, violência do trânsito...
Segundo a Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritia), no Brasil, morrem, por dia, em média, 54 jovens vítimas de homicídio!
O Brasil é o 3º país com mais assassinatos de jovens no mundo!
Vem, por isso, muito acertadamente a Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens, iniciativa das Pastorais da Juventude do Brasil, com o apoio do Setor Juventude da CNBB.
Iniciada em 2009, para este ano de 2011, a referida Campanha prevê:
- até o mês de abril, divulgação do texto-base;
- um seminário nacional, em agosto;
- 1ª Semana Nacional de Luta Contra a Violência e o Extermínio de Jovens, em novembro, antecedendo o Dia Nacional da Consciência Negra.
Para 2012, planeja-se a construção da marcha nacional da Campanha, programada para o mês de julho.
O objetivo da Campanha prevê permanentemente sensibilizar a sociedade e denunciar o extermínio dos jovens brasileiros.
Ampliar o diálogo com as forças sociais interessadas em discutir o tema da violência e pensar formas de enfrentamento para esta missão.
Está aí, pois, um programa a ser realizado, de maneira criativa, inteligente e concreta pelas Pastorais da Juventude!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

JOVENS NA CF

Pe. Francisco de Assis Correia.
12/01/2011

O tema acima é o mesmo do Manual da CF – 2011 (pp. 219-255).
A reflexão contida neste subsídio parte do Princípio Cuidado:


“Quando Amamos cuidamos
e quando Cuidamos amamos”
(Leonardo Boff).


Ser “Ser cuidante” é o ponto de partida!
O subsídio desenvolve quatro encontros:
O 1º diz respeito a: “Os jovens estão preocupados com a vida no Planeta”.
O 2º: “Os jovens reconhecem o valor da vida no Planeta”.
O 3º: “Os jovens desejam ser uma Igreja missionária e comprometida com a vida do Planeta”.
O 4º: “Os jovens crêem no Deus da Palavra que se fez vida”.
Os encontros servem-se da seguinte metodologia ou dinâmica: introdução; acolhida; aprofundamento temático; algumas reflexões para nos ajudar a pensar a partir do poema (contido no texto); aprofundando a fé; refletindo a Palavra de Deus na Bíblia e na vida; aprofundando nossas práticas; técnica de grupo; meio ambiente; mensagem; canto; oração de grupo; canto final; e anexos.
O texto é profundo e bem desenvolvido.
As reflexões são pertinentes em relação com os temas, mas não são para todos os grupos de jovens.
Na minha modesta opinião, servem mais a jovens universitários/as, assim mesmo com assessoria!
O vocabulário, igualmente, está longe do cotidiano do jovem.
Vejam: Biosfera, obsolescência, legado, tema transversal, socializar o texto, dossiê, sentinela, efeito – estufa, biodiversidade, sinapse, “Big Bang”, arquétipos, altorregenerração, endêmica, ecossistema, habitat, ideologia, políticas públicas, qualidade de vida, campo eclesial, protagonismo, unção, saneamento básico, manancial, alfareiro, galáxias, Cassiopéia, Órion, etc...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O MANUAL DA CF – 2011.

Pe. Francisco de Assis Correia.
11/01/2011.

O Manual da CF – 2011 contém muito mais que o texto - base. Há nele uma grande riqueza de subsídios!
Nele, encontram-se: “Fraternidade Viva”, uma cartilha com diversas respostas ao tema vida no Planeta; “Encontros Catequéticos com Crianças e Adolescentes”: são quatro encontros com dinâmicas criativas, imagens sugestivas, atividades (um exemplo, aliás, de riqueza para a Catequese); “Jovens na CF”: este subsídio é destinado à juventude para que ela, reunida em grupo, “recrie criativamente a esperança e colorido da vida”; “Fraternidade nos Círculos Bíblicos”: pretende “fornecer orientações para atitudes fundamentais, como por exemplo, reverência diante da obra de Deus, valores básicos para decidir o que é melhor para todos, resistência diante dos apelos ao egoísmo e ao desperdício que desconsidera o bem comum, missão do ser humano no conjunto da criação”; Via-Sacra; Vigília Eucarística e Celebração da Misericórdia, Celebrações Ecumênicas; subsídios para o Ensino Fundamental I e II, ABC da Fraternidade: “é um subsídio da Campanha da Fraternidade que tem por objetivo contextualizar o estudo do tema e do lema desta campanha em vista de uma melhor compreensão de todo o conteúdo para uma maior atenção de todos no sentido de atingir os objetivos por ela propostos”. Na minha modesta opinião, este subsídio deveria ter vindo em primeiro lugar no Manual e não, no penúltimo, como está situado. Por fim, há o subsídio Famílias na CF com o objetivo de convidar as famílias “a refletir o problema do aquecimento global manifestado especialmente nas mudanças climáticas, fenômeno que tem gerado muita insegurança nos diferentes lugares do mundo”.
INICIATIVAS PASTORAIS

Côn. Francisco de Assis Correia
11/01/2011

No momento em que se fala e se escreve tanto sobre “ser discípulo e missionário”, mas poucos querem ser discípulos (seguir Jesus Cristo) e, muito menos, ser missionários (anunciar e testemunhar Jesus Cristo); quando o mais visível e rendoso é promover novenas; promover cultos e bênçãos, etc... é salutar e esperançoso constatar novas iniciativas na pastoral.
Menciono, aqui, neste espaço, apenas algumas fora da mesmice em que se encontra a pastoral, dentro da conservação ou manutenção.
Uma delas é a Gestão de Liderança Cristã que tem como “objetivo, propiciar o aprimoramento dos agentes religiosos no sentido de investigar, compreender, avaliar e aprofundar os conhecimentos e as experiências em atividades pastorais”. Está sendo oferecido pela PUC – Minas, pela primeira vez (Cf. JORNAL de OPINIÃO, nº 1125, p. 04-05).
Embora com mais de 10 anos de existência, a PUC – Minas oferece, ainda, o curso de Teologia Pastoral. Ele é “voltado para religiosos e sacerdotes com intuito de tentar aprimorar o processo de evangelização no mundo atual”.
Ambos os cursos pretendem capacitar sacerdotes, religiosos e leigos no planejamento e na gestão a serviço do Evangelho.
No contexto atual de “muita superficialidade e pouca profundidade”, na análise de Giles Deleuze, como isso é oportuno e urgente!
A necessidade de se superar a “mania pastoralista”, o “funcionalismo clericalista”, a “lógica mercadológica” e ir de encontro à solidariedade.
Tornar as paróquias lugar de formação e as foranias “instâncias de participação e responsabilidade pastoral” (Frei Marco Antônio Torres).