A Caminho da Pascoa: Acreditar na Solidariedade, na Partilha é corresponder ao mandato apostolico deixado por Jesus Cristo... somos discipulos e missionarios, chamados a servir ao proximo com caridade, solidariedade e partilha.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O BOM JESUS DA LAPA DE JARDINÓPOLIS (1913-2011)

Pe. Francisco de Assis Correia.

A festa do Bom Jesus da Lapa de Jardinópolis surgiu a partir de uma mulher humilde, simples, baiana de Cordeúba, de vida bastante conturbada e nada conforme os preceitos da Igreja. Seu nome de Batismo era Juventina Pereira do Nascimento, mas ficou conhecida como Pequena do Nascimento ou, simplesmente, Dona Pequena, falecida em Jardinópolis – SP, a 17 de setembro de 1950. Baiana devota do Bom Jesus da Lapa da homônima cidade da Bahia, trouxe essa devoção para Jardinópolis. O início foi doméstico, em sua própria casa, no local onde, hoje, localiza-se o Lar São Vicente de Paulo (rua Prof. Euclydes Berardo, nº 67). Depois, passou-se a uma pequena capela perto da Curva da Morte, mais ou menos onde há a rotatória do Sagrado Coração de Jesus e, por fim, em 1919, estabeleceu-se definitivamente no local onde se encontra atualmente.
No início, a festa teve oposição de vizinhos (barulho, arruaça, etc) e de fazendeiros (trabalhadores de fazenda ficavam na cidade e não iam trabalhar na colheita de café).
Depois, começou também a oposição da Igreja, porque a festa estava nas mãos de uma mulher fora dos padrões exigidos e, além do mais, contrariando os Regulamentos paras as Festas da Diocese de Ribeirão Preto, datados de 19 de março de 1918.
Em 3 de agosto de 1928, Dom Alberto José Gonçalves, Bispo de Ribeirão Preto, estabeleceu o Interdito Proibitório da Festa. Não adiantou.
O Vigário Pe. Jayme Noguera chegou a promover a Festa da Lapa na matriz. Mas não conseguiu com isso acabar com a da Pequena.
Nem mesmo a ameaça da excomunhão (06/07/1934) aos freqüentadores e colaboradores da festa da Pequena obteve êxito!
Aos 31 de julho de 1935, com a ajuda de políticos do Partido Republicano Paulista, tendo à frente o Dr. Mário Lins, fechou-se o acordo entre a Diocese e a Pequena do Nascimento.
A partir daí, a Festa da Lapa tornou-se, então, Festa “legalizada” da Paróquia, tendo à sua frente o Vigário e uma Comissão especial para ela, aprovada pela Cúria Diocesana!
A capela foi elevada à categoria de Santuário, por Dom Arnaldo Ribeiro, então Arcebispo Metropolitano de Ribeirão Preto, aos 27 de novembro de 2005 e sua instalação oficial deu-se em 20 de maio de 2006.
O CULTO DO BOM JESUS

Pe. Francisco de Assis Correia.

6 de agosto lembra: festa da Transfiguração do Senhor, a bomba atômica sobre Hiroshima no Japão e o culto do Bom Jesus.
Neste culto, como sublinhou Riolando Azzi, quatro eventos da vida de Jesus Cristo são evocados pelos devotos do Bom Jesus: “a coroação de espinhos e a flagelação de Cristo; o caminho doloroso em direção ao Calvário; a morte na cruz, e, por último, o seu sepultamento”.
Cada evento deste tem um (ou vários) nome: Bom Jesus da Cana Verde, “Ecce Homo” (Eis o Homem); Senhor dos Passos; Senhor do Bom Fim (ou seja, “o Senhor que encerra a sua missão redentora sobre a terra”) ou, Bom Jesus da Lapa; e o Senhor Morto.
Para o povo, “todas as imagens... são consideradas vivas, isto é, portadoras de graça, vida e saúde para os devotos”.
Segundo Riolando Azzi, nestas devoções, há a paixão sofrida por Cristo e sua Compaixão pelo povo.
Outros vêem nesta e noutras devoções populares, longe de ser alienação e ópio, resistência para sobreviver e enfrentar as dificuldades e os obstáculos da vida.
Ou, “se Jesus sofredor ajuda as pessoas a suportarem o peso dos sofrimentos da vida, não falta, também, por vezes, a denúncia daqueles que idolatram o poder e a riqueza”.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

HIROSHIMA NUNCA MAIS

Pe. Francisco de Assis Correia

Dia 6 de agosto, na liturgia da Igreja Católica, é dia da Transfiguração do Senhor, ou seja, da memória daquilo que aconteceu no Monte Tabor (segundo a tradição): Jesus manifestou-se aos discípulos em todo o esplendor da vida divina!
Mas, a mencionada data, lembra, também, o que aconteceu em 1945 no Japão: a desfiguração (e morte imediata de 130 mil pessoas) causada pelo lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima!
É inevitável, entretanto, a lembrança, tão presente e inapagável de Fukushima, igualmente no Japão (11/03/2011): o terremoto, o “tsunami” e a radiação do vazamento de suas usinas atômicas!
De Hiroshima ressoou o urgente imperativo de se ter um mundo sem armas nucleares! No mundo atual, existem 20 mil, localizadas em 111 lugares, em 14 países!
“Visto de um ponto de vista jurídico, legal, político, de segurança, além de tudo, moral, não há nenhuma justificativa para continuar mantendo armas nucleares”, afirmou recentemente Dom Francis Chullikatt, representante do Vaticano na ONU.
De Fukushima, veio o alerta – como profetizou o texto da Campanha da Fraternidade deste ano – de que “a energia atômica continua ameaçadora por causa das contaminações possíveis em vazamentos e com seu lixo” e, no que diz ao Brasil, propôs “provocar e/ou reforçar a mobilização da sociedade brasileira para exigir, do governo federal, uma política energética que tenha o sol, o vento e as ondas do mar como fontes prioritárias”.
Bem disse Kenzaburo Oe, prêmio Nobel de Literatura: “desenvolver a energia nuclear no Japão é uma traição às vítimas de Hiroshima. Mas talvez Fukushima seja o ponto de virada, não apenas para o Japão, mas para o resto do mundo também”.
Revendo o filme de Kiyoshi Kurosawa, Kairo (2001) – uma visão hiperrealista do que aconteceu em Hiroshima – ele nos assusta (Kairo quer dizer circuito, cerco...) e leva-nos à pergunta: Temos futuro?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

FUNDAMENTALISMO E INTOLERÂNCIA

Pe. Francisco de Assis Correia.

Causaram surpreendente impacto no mundo os atentados ocorridos na Noruega, por ser país de imensa tranqüilidade e alto nível de vida! Quem poderia imaginar que um norueguês mesmo fosse cometê-los?
A primeira versão logo acusou um grupo terrorista islâmico! Pobres muçulmanos. “Tudo eles?”
Depois, descobriu-se o verdadeiro autor. Tão próximo. Tão de casa!
Ele é fundamentalista, intolerante, de extrema direita.
Como fundamentalista ou radical só aceita o que está escrito literalmente. Por isso é intolerante. Não admite o diferente, o pluralismo e a diversidade.
Como extremista de direita é contra o partido trabalhista da Noruega, o estrangeiro, principalmente islâmico.
O pior é que parece crescer, cada vez mais, esta tendência na Europa, como afirma o respeitado professor de Cambribge, T. J. Winter, para quem a ameaça nasce no Ocidente e não no Oriente, dadas as “tendências políticas de direita e convicções antimuçulmanas” e, ainda, de tipo neonazista!
Enquanto isso, há quem acredite firmemente na possibilidade de cristãos e muçulmanos conviverem em paz!
Trata-se, por exemplo, da mesquita, na Jordânia, dedicada ao “Profeta Jesus”. Seu imã explicou que “a mesquita quer levar uma boa notícia de convivência e de tolerância”!
Há, ainda, na mesma Jordânia, “A Fraternidade do Sermig” que quer o diálogo entre cristãos e muçulmanos, através da partilha de vida!
Belos exemplos de superação do fundamentalismo e da intolerância hodiernos.
SEMANA NACIONAL DA FAMÍLIA

Pe. Francisco de Assis Correia.


De 14 a 20 de Agosto, celebra-se a 15º edição da Semana Nacional da Família.
Ela é promovida pela Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Comissão Nacional da Família.
Este ano, discuti-se: “Família, Pessoa e Sociedade”.
É a Hora da Família 2011.
O subsidio traz sugestões de celebrações, reflexões sobre o Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia do Catequista, Dia do Nascituro, etc...
Segundo Dom João Carlos Petrini, presidente da Comissão Pastoral para a Vida e a Família, esta semana deve ser celebrada como uma festa, pois:
“Quando uma família cristã faz festa, celebra o dom da vida e o dom da fé que cada um recebeu, festeja o dom do amor entre marido e mulher, o dom da maternidade e da paternidade, o dom do sacramento do matrimônio e, portanto, o dom que é a presença de Jesus Cristo na convivência familiar”.
Este é o ideal que se almeja na Pastoral Familiar.
Há, ainda, sugestões para as escolas trabalharem sobre a realidade e os valores da família; para as comunidades promoverem estudos e palestras sobre os valores da família; para se ouvirem testemunhos de casais; para celebração eucarística com todos os casais; para vigílias; para fórum da família; para teatro com o tema: “Família, Pessoa e Sociedade”, etc.
Da minha parte, sugiro que se veja o filme “A Árvore da Vida” (cujo lançamento, no Brasil, está previsto para 12/08/2011), em cuja sinopse, lê-se:
“Conta a história que aproxima o foco na relação entre pai e filho de uma família comum, e expande a ótica, desta rica relação, ao longo dos séculos, desde o Big Bang até o fim dos tempos, em uma fabulosa viagem pela história da vida e seus mistérios, que culmina na busca pelo amor altruísta e o perdão”.

terça-feira, 26 de julho de 2011

COMPAIXÃO E SOLIDARIEDADE

Evangelho deste domingo: Mateus 14, 13-21.
Trata-se da multiplicação dos pães: Jesus encontra-se no deserto, acompanhado de uma multidão sem alimento e ordena a seus discípulos que providenciem o alimento.
Na narração de Mateus, Jesus aparece como o sucessor de Moisés, capaz de alimentar o povo com alimentos de vida e de conduzi-lo para a terra prometida. Ele é o novo Moisés: oferece um maná superior ao de Moisés, triunfa sobre as águas do mar como Moisés, liberta o povo do legalismo no qual sucumbira a Lei mosaica e abre caminho para a Terra Prometida a todos, sem distinção.
Jesus teve compaixão da multidão, curou seus doentes e multiplicou os pães. Compaixão não se confunde com dó, pena, dolorismo. “Na compaixão busca-se uma identificação com a dor do outro; é sentir junto, sofrer em comunhão”.
Jesus solidarizando-se com a multidão faminta, “destaca que é preciso dar de comer a quem tem fome e ressalta que eles comeram e se saciaram (Mc 6,30-44;...); mostrando que aquele que dá de comer ao faminto encontra o homem e o Filho do Homem (Mt 25, 35-40)”.
Jesus mostra-nos que Deus é um Deus da Vida e está a favor da vida dos homens. Indica-nos que é necessário reconquistar a vida, continuamente, contra a presença da fome, da morte, da opressão.
Aquele que “veio para dar vida e vida em abundância” convida-nos a trabalhar para que todos tenham condições de vida. Para esta missão, é necessário haja, em primeiro lugar, compaixão para com os famintos, com o drama da miséria, com as conseqüências das doenças, do problema da moradia, do trabalho...
É Necessário que vejam estas realidades a partir da vida das pessoas, isto é, a partir da ótica dos necessitados.
Alguém afirmou, em relação à fome, ser ela “o maior e o mais triste dos problemas. A fome já não está matando a longo, mas a curto prazo. Elimina sobretudo boa parte da população infantil”.
A solidariedade com os famintos, hoje, deve expressar-se na partilha dos recursos e na busca conjunta com os pobres dos caminhos condutores de uma vida, onde não haja famintos e onde quem tem comida de sobra não se dê ao luxo do desperdício, mas saiba repartir o pão com quem tem fome.
O caminho da multiplicação dos pães, hoje, passa necessariamente pela justa distribuição dos bens.
“Jesus não apenas faz o milagre da multiplicação dos cinco pães e dos dois peixes. O texto evangélico insiste no fato de dar. Jesus dá o pão e os peixes aos apóstolos e estes, por sua vez, os dão à multidão (Mt 14,19).
Esta insistência no dar possui grande significação. O verdadeiro milagre que pode ser sempre repetido e deve constituir a prática constante dos homens é a economia do dom e da solidariedade, mediante a repartição de todos os bens materiais. Se houvesse compaixão, partilha e capacidade de doação, não haveria pobres” (L. Boff).



Pe. Francisco de Assis Correia.
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A PARÁBOLA DO SEMEADOR

Evangelho desse domingo: Mt 13, 1-23.
Trata da parábola do semeador e da semente.
Um atualíssimo livro sobre Jesus Cristo – Jesus, Aproximação Histórica (Petrópolis: Vozes, 2010), do teólogo e biblista espanhol José Antonio Pagola, a certa altura, apresenta Jesus como “Poeta da Compaixão”. Por isso, serviu-se de parábolas como caminho para “entrar” em sua experiência do Reino de Deus! As fontes cristãs conservaram cerca de quarenta parábolas!
Estas traduziam a experiência de vida de seus ouvintes (camponeses e pescadores) e podiam ajudá-los a abrir-se ao Reino de Deus.
Nesta parábola, a semente representa a palavra. O semeador é Cristo. Os diferentes tipos de terreno representam os diferentes tipos de ouvintes e suas variadas disposições ou atitudes.
Padre Antonio Vieira, no seu Sermão da Sexagésima (na verdade, um tratado sobre a oratória sacra), explicando esta referida parábola, afirmou: “O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo, que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias, e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados e seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam, e nestes é pisada a palavra de Deus, porque ou a desatendem, ou a desprezam. Finalmente a terra boa são os corações bons, ou os homens de bom coração, e nestes prende e frutifica a palavra divina com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um”.

Pe. Francisco de Assis Correia.
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A RADICALIDADE DE JESUS

Evangelho deste domingo: Mt 10, 37-42.
Àqueles (as) que esperam um Jesus adocicado, surpreende o Evangelho deste domingo pela sua radicalidade!
Como pode Jesus exigir: que Ele seja amado acima do amor aos nossos pais, dos nossos filhos? Que tomemos a nossa cruz para segui-Lo? Que percamos nossa vida por causa Dele?
Surpreende e até desconcerta, hoje, como no seu tempo!
O que ele quis dizer com isso?
Quer dizer que seus seguidores devem estar comprometidos com o Reino de Deus que Ele anuncia estar presente e que só o Reino de Deus é absoluto. Esta paixão pelo Reino e sua justiça deve também ser a do (a) discípulo (a). Nada além disso, deve deter seus seguidores!
É para essa radicalidade de Jesus, que nós, cristãos e cristãs precisamos estar voltados. É esta radicalidade, justamente, com o amor, que deve ser o critério de revisão de nossas vidas! Tudo o mais, então, torna-se relativo, secundário.
Por fugirmos desta radicalidade, invertemos o critério fundamental e nos escondemos em questões secundárias e até distantes da vida cristã, como fariseus do século XXI.
Esquecêmo-nos de que a prática é o indicativo da correta vida cristã e esta situa-se na vida diária.
Sob este prisma, vale a pena conferir o admirável filme Homens e Deuses, de Xavier Beauvois, que trata da radicalidade da vida cristã vivida pelos monges trapistas de Tibhrine, na Argélia, martirizados em 1996.
Tendo presente que a mentalidade pós moderna é “presentista”, ou seja, só pensa no presente e não no futuro (muito menos no passado), o filme leva-nos a pensar nos critérios da vida cristã, vividos no presente, com perspectiva de futuro: Reino de Deus em plenitude.
Vale a pena conferi-lo.



Pe. Francisco de Assis Correia.
Pároco Emérito *

* Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Filosofia pela Unicamp.