A Caminho da Pascoa: Acreditar na Solidariedade, na Partilha é corresponder ao mandato apostolico deixado por Jesus Cristo... somos discipulos e missionarios, chamados a servir ao proximo com caridade, solidariedade e partilha.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Solidariedade e Paz


Campanha da Fraternidade
- 2010 -
Francisco de Assis Correia*
  1. Neste ano de 2010 a Campanha da Fraternidade é Ecumênica

Seu tema: Economia e vida
Seu lema: "Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro" (Mt, 6,24)
É a terceira Campanha da Fraternidade Ecumênica.
A primeira foi em 2000, com o tema: "Dignidade Humana e Paz"; e o lema: "Novo Milênio sem exclusões".
A segunda foi em 2005, com o tema: "Solidariedade e Paz"; e o lema: "Felizes os que promovem a Paz".
É Ecumênica, porque reúne o trabalho das Igrejas que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC); : Igreja Católica, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Sírian Ortodoxa de Antioquia.
"O que move as Igrejas a agir é a graça, o amor de Deus e o testemunho de sua fé em Jesus Cristo".
O objetivo geral da CFE (Campanha da Fraternidade Ecumênica) deste ano é: "Colaborar na promoção de uma Economia a Serviço da Vida, fundamentada no Ideal da Cultura da Paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão".
Ela busca inspiração na Fé Cristã para fomentar uma economia que atenda às necessidades básicas de todos os seres humanos.
Por isso, seus objetivos específicos são:
- "sensibilizar a sociedade sobre a importância de valorizar todas as pessoas que a constituem.
- buscar a superação do consumismo, que faz com que o "ter" seja mais importante do que as pessoas.
-criar laços entre as pessoas de convivência mais próxima em vista do conhecimento mútuo e da superação tanto do individualismo como das dificuldades pessoais.
-mostrar a relação entre fé e vida, a partir da prática da justiça, como dimensão constitutiva do anúncio do Evangelho.
-reconhecer as responsabilidades individuais diante dos problemas decorrentes da vida econômica em vista da própria conversão" (CFE, 19).
Esses objetivos, no texto-base, são trabalhados em quatro níveis: social, eclesial, comunitário e pessoal.
O mesmo está dividido em cinco partes:

- introdução: A vida em primeiro lugar
-a vida ameaçada
- economia para a vida
-promover a vida
- conclusão
E o texto se encerra com um rico comentário ao Pai-Nosso, lido e rezado à luz do tema da CFE 2010.
Comentarei a seguir o referido texto, parte por parte.

2. A Vida em Primeiro Lugar

Este é o titulo da Introdução do texto-base.
Começa contrapondo a dádiva da vida e a lógica do mercado. Diante da primeira, importa, saibamos ser agradecidos; diante da segunda, importa tenhamos consciência de que há valores que “não se podem nem se devem vender e comprar”.
“A dádiva nos introduz num círculo onde tudo é graça e solidariedade”. Mas, também, de interdependência mundial e corresponsabilidade mútua.
Precisamos de uma economia que sirva à vida e não de vida a serviço da economia. Esta não é autônoma. Ela tem “a obrigação moral de garantir oportunidades iguais, satisfazer as necessidades básicas das pessoas e buscar a justiça”.
É dentro desta perspectiva que se examina, por exemplo, o valor econômico da água. Essa não é uma mercadoria. Ela tem dimensão de direito humano, caráter vital, sagrado.
O mesmo critério estende-se ao Planeta Terra, diante do qual importa o cuidado, a preservação e o respeito.
Felizmente, crescem, hoje, iniciativas a favor da vida, dos desamparados, do desenvolvimento sustentável e do ponto de vista social e ecológico.


3. A Vida Ameaçada

A primeira parte do texto-base corresponde ao ver a realidade, tal como ela se apresenta. Esta se revela com o número incontável de pobres, tanto no Brasil como no mundo em geral; de desigualdade, de indigência.
Os pobres não são apenas destinatários da compaixão das Igrejas. É preciso promover, com urgência e eficiência, os direitos dos pobres, facilitar-lhes o ingresso na cidadania plena: valorizá-los, ser ouvidos, levados a serio...
O sonho de todas as pessoas é desfrutar de uma vida longa, saudável e criativa. “Isso é um direito universal e uma necessidade que implica o bem de toda a sociedade”.
Obstáculos a serem superados: o individualismo, a falsa ética utilitária, o consumismo, o lucro excessivo, a acumulação da riqueza, a fome, a desnutrição, a pobreza, o desenvolvimento equilibrado, a valorização do patrimônio em detrimento a vida dos pobres, a escravidão dos trabalhadores, a dívida interna e externa, a dívida social, a falta da reforma agrária, a corrupção, a degradação do meio ambiente, a deterioração do trabalho, a privação de direitos fundamentais...

4. Economia para a vida

Trata-se da segunda parte do texto-base. Momento do julgar, à luz da fé cristã, a realidade encontrada.
À luz do lema proposto: “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24), somos convidados a escolher entre “os valores dos planos de Deus e a rendição diante do dinheiro, visto como valor absoluto dirigindo a vida. O problema não é o dinheiro em si mas o uso que dele se faz”.
Por isso, é necessário haja um sistema econômico para todas as pessoas conforme o plano de Deus que quer o bem de todos. Ou “vivemos solidariamente como irmãos ou seremos todos infelizes num mundo trágico”. E, de acordo com a Palavra de Deus, o trabalho apresenta uma escala de prioridades em quatro dimensões: social, comunitária, pessoal e eclesial e da pratica religiosa (nº72).
Vemos pela bíblia como Deus repartiu a terra fraternalmente entre as tribos; como Ele quer o trato, o cuidado e o desvelo para com a terra; como Ele quer justiça para os pobres; como Ele proíbe empréstimo com juros; Ele quer que os trabalhadores sejam respeitados em sua dignidade; no Reino de Deus a lei é a solidariedade; Deus quer ser amado e servido nos pobres...

5. Promover a Vida

A terceira parte resume o agir no promover a vida. Isto é:
- no âmbito social, servir a Deus e não ao dinheiro exige a promoção de políticas que dêem a todos o direito de desenvolver seus talentos e viver dignamente.
- no âmbito comunitário estar atentos ao que acontece à nossa volta e militar em todas as frentes.
- no âmbito eclesial, servir mais a Deus e ao próximo, estando a serviço das causas sociais.
- no âmbito pessoal, educar-se e educar para o respeito ao direito de todos, para o cuidado responsável com o planeta, para a resistência às seduções do consumismo, para valorizar cada um pelo que é, pelo potencial que tem e não por aquilo que possui como riqueza material. Nesse espírit, devemos estar preparados para o protesto profético sempre que for necessário.
O texto denuncia a perversidade de todo modelo econômico que vise em primeiro lugar o lucro, sem se importar com a desigualdade e miséria, fome e morte”.
Afirma que “a economia deve sustentar a qualidade da vida de todas as pessoas no limite das condições sustentáveis ao Planeta e deve servir ao bem comum, universalizando os direitos sociais, culturais e econômicos”.
Busca “linhas de compromisso concreto de ação para que a riqueza e a política econômica sejam colocadas a serviço do desenvolvimento integral de toda sociedade brasileira e da humanidade. Sem passar a ações bem concretas na vida de cada pessoa e da política de Estado, sem dar novos rumos às metas e finalidades da organização da economia, toda boa intenção e todo bom discurso moral se tornam vazios”.
Conclama a todos para ações sociais e políticas capazes de implantar um modelo econômico de solidariedade e justiça para todas as pessoas”.
Destaca “a importância da ação coletiva para a transformação social. O dialogo permanente e a articulação das forças sociais, a colaboração entre Igrejas e sociedades etc ...”.
Tratando do ecumenismo e da opção pelos pobres como “adesão livre ao mandamento do Senhor”, o texto brinda-nos com esta máxima: “O cristão é um servidor não alguém que recorre a Deus em busca de favor” (nº109).
Propõe ainda: educação para a solidariedade, desenvolvimento de processos de educação popular, dar testemunho de solidariedade, educar os indivíduos na sociedade da abundancia e do consumismo, optar por uma economia do bem comum e do suficiente, economizar de modo responsável (não como um avarento), reutilizar, reciclar, respeitar com gratidão os dons de Deus e doar com generosidade serviços e bens para socorrer e promover os necessitados...
O texto atualiza, também, o que hoje, é estar do lado dos pequenos:
-não é somente dar esmola ou distribuir comida
-é criar consciência dos direitos e incluir na cidadania
-valorizar o trabalho
-inventar novas formas de trabalho produtivo
-integrar todas as pessoas em atividades remuneradas
-e exigir a proteção social para as pessoas em necessidade
Propõe, ainda, lutas que visem a conquista da emancipação do ser humano e do trabalho (com seis propostas concretas), criar um novo conceito de sistema bancário, políticas públicas e seguridade social (com seis propostas concretas), preservação do meio ambiente e reforma agrária.

*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

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