FAZENDA NIAGARA
Pe. Francisco de Assis Correia
O nome, para alguns, lembra as cataratas do Canadá.
Para outros, uvas.
Para mim, é a fazenda
onde moraram meus avós maternos,
meu tios e minhas tias,
o lugar onde morei logo após ter nascido
(nasci na Santa Casa de Jardinópolis),
e ali vivi por cerca de 4 anos.
E, morando na cidade, não havia dia que não ia passar lá,
na casa da avó Maria.
Ela morava numa casa fora da colônia,
perto de um córrego,
de uma mina,
tendo ao seu redor:
laranjeiras, pés de mexerica,
de tangerina, e abacate,
de paineira, de bananeira,
de goiabeira, de jaboticabeira...
Havia horta farta,
galinheiro, paiol...
Não havia dinheiro,
mas nada faltava de comida.
A avó Maria cozinhava muito bem.
Nas festas, no forno de bola,
ao lado da cozinha, ela fazia pães, roscas, bolos,
frangos assados,
leitoa assada.
Durante o ano, a avó fazia lingüiças.
Ficavam dependuradas na despensa.
À vontade.
Ali havia sacos de arroz, de feijão e de outras coisas.
Na venda só se comprava:
sal, azeite, querosene, fósforos para acender as lamparinas e o fogão
(só na década de 60, instalou-se eletricidade nas casas dos colonos!
O mesmo com água encanada e banheiros!), farinha de trigo e algo mais...
Como fui feliz
na fazenda Niagara...
Havia lá, também,
a casa do tio Altino e da tia Helena:
A Mariinha, o Zé Mário, o Luís, a Sidinéia.
Noutra casa:
Tio Pedro e tia Guiomar,
com a Marina, o Pedrinho, o Paulinho, a Sandra, a Ana Helena...
A casa do Sô Rodolfo e da Dª Elvira,
com um monte de filhos e filhas...
E o meu amigo Pérsio.
Dona Elvira, pela manhã, sempre fazia polenta frita na chapa,
para se tomar com leite...
Que gostosura!
A casa da Dª Idelma e do Sô Francisco Leme
(Cumadi Delma e Sô Chico Leme para a minha avó).
Uma penca de filhos...
Muito trabalho, muita horta...
Admirava Dª Idelma, de pé,
comendo na tampa da panela,
aquele sorriso amplo,
gostoso...
Chacoalhava-se toda!
E Sô Chico Leme também.
A casa do Sô Turíbio e da Dª Conceição:
Muitos filhos e filhas.
Eram também compadres dos meus avós.
Admirava neles o mútuo respeito
e a amizade sincera
que durou até o fim da vida,
mais do que se fossem parentes.
As casas, durante muito tempo, não tiveram piso
- eram de terra batida -,
Água encanada, banheiro, muito menos forro...
A casa do Sô Elias Gibaile e de Dª Dalva...
Ele era o fiscal da fazenda.
A casa dele ficava perto do “terreirão”.
Distante da casa do fazendeiro,
cerca de 200 m., se tanto!
Dos filhos, lembro-me mais do Zé Oswaldo,
Colega de escola e amigo.
Ah! Lembro-me, também,
de duas irmãs de Dª Dalva. Não de seus nomes.
Sei que bordavam muito bem!
O terreirão para secar café
parecia-me imenso.
Não era lugar de brincadeira.
Uma vez, justamente nele,
secando o café, meu avô perdeu todo o seu salário!
Quem achou?
Foi um dia de muita tristeza para a família!
De vez enquando, neste mesmo terreirão,
à luz de duas velas,
tendo ao fundo um canteiro de hortênsias,
uma imagem,
tia Beca (Mercedes) rezava o terço seguido por um grupo de senhoras.
Na safra de café,
corriam umas vagonetas.
Iam em trilhos levando café para ser beneficiado.
Iam e voltavam.
Tio Ireneu (irmão de meu pai, por parte de pai)
trabalhava aí.
Fazia de tudo no que se chamava “máquina”.
Ia e voltava de bicicleta:
De sua casa à fazenda,
da fazenda para a sua casa.
Era de pouca conversa o tio Ireneu.
Tio Altino carroçava,
tio Paulinho fazia de tudo,
tio Pedro tratorava,
tia Beca cozinhava na sede,
prôs patrões:
Sô Humberto Pereira Lima e
dona Clarinha (Dona Mariana Clara Ferreira da Rosa Pereira Lima)
que foram pais de: Fernando, Humbertinho, Roberto, Eduardo, Regina, Sérgio e Cândido
(não conheci este último).
E minha família materna toda trabalhou prá eles!
Queria muito bem a eles.
Meu pai – não sei porque –
não gostava deles.
Dizia que Pereira,
não é pau nem madeira!
Quando Clara e eu nascemos (10/10/1944),
Dª Clarinha mandou
que fôssemos amamentados,
além do leite materno,
pela vaca “Riqueza”.
Conheci esta excelente matriz,
de úberes cheios,
e tive por ela gratidão:
à Dª Clarinha, madrinha da Clara e à “Riqueza” pelo nutritivo e saboroso leite.
As uvas “Niagara” eram deliciosas.
O vinhedo ficava abaixo do terreirão,
em frente à “máquina”.
Trancado a cadeado,
nele só entrava o encarregado do mesmo.
Era um édem,
só acessível a poucos.
Mesmo assim,
cheguei a comer delas
como um Baco.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
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