NO TEMPO DO “FOOTING”
“Rua Silva Jardim ou silvo em mim?” (Carlos Drummond de Andrade).
Dar volta no jardim,
em Jardinópolis,
ao redor da Matriz,
à noite,
era um grande programa,
aos sábados e domingos,
feriados e dias santos.
Homens de um lado,
mulheres de outro,
em sentido contrário.
Viam-se,
olhavam-se,
piscava-se...
Tudo acertado,
ele e ela paravam.
Uma conversa
e tudo combinado,
ele a levava para a casa.
Começava o namoro.
Noivado.
Casamento!
Tudo era tão simples,
quase ingênuo.
A Rádio Ilha Grande,
ou melhor:
Serviço de Auto-Falante
da Rádio Ilha Grande,
comandada pelo Cleid Costa,
animava o “footing”.
Dava um ar festivo,
com músicas oferecidas ou não
“como prova de muito amor”.
Durante o dia,
servia, também, para noticiar,
aviso de falecimento: “Nota de Falecimento!”
Faleceu, nessa cidade,
o Sr. ou Sra. ...
Benquisto (a) morador (a) local.
O extinto (a) tinha ... anos de idade.
Seu sepultamento será às ...,
saindo o féretro da residência,
à Rua ...,
em direção à necrópole municipal.
À noite,
tudo era vida na praça.
Pena que,
às 21hs,
o som era desligado,
e se desfazia o movimento.
As pessoas se retiravam,
cada uma para a sua casa.
Era gente indo para os quatro pontos cardeais.
Uns iam para o lado da Baixada,
outros para o lado da Curva da Morte.
Uns para o lado da Caixa D’Água,
outros para o lado da Estação.
Eram os referenciais,
de então,
de Jardinópolis.
Melancolicamente a noite acabava,
com a música de
Lamartine Babo
e Francisco Matoso,
cuja letra, entre outras coisas,
confidenciava: “Mas tu não flertastes ninguém
Olhavas só para mim
Vitórias de amor cantei
Mas foi tudo um sonho... acordei”.
Pe. Francisco de Assis Correia.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário