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quinta-feira, 18 de março de 2010


VIII – GREVE DE FOME







Francisco de Assis Correia *

A greve de fome por parte de alguns prisioneiros políticos (e também, de não prisioneiro), em Cuba, suscitou novamente, entre outras questões, a da moral da greve de fome.
Aliás, “greve de fome” é uma expressão equivocada. A palavra greve é imprópria, ou, pelo menos, imprecisa. Trata-se, na verdade, de “greve de alimento”, ou, “greve mediante a fome”. Deste modo, utiliza-se a fome como instrumento de reivindicação (= greve).
longo da História passada e recente, são lembrados os casos de greve de fome de: São Malaquias, no séc. XIII, arcebispo de Armagi, na Irlanda, que recorreu à greve de fome para obter a liberdade de um nobre injustamente preso. Mahatma Gandy, entre 1918 e 1948, para conseguir objetivos políticos; a morte de Mac Swiney(1920); as greves de fome em La Paz(Bolívia, 1977 -1978); as de Santiago (Chile, 1978), a dos 12 membros do IRA (1981) dos líderes radicais populares (Marinaleda, 1981), a de Sakarov (1981), a dos encarcerados na Espanha (1990), de Dom Frei Luiz Flavio Cappio, OFM, Bispo de Barra (2005),etc...
É, moralmente, lícito fazer greve de fome, levar a abstenção de alimentos até à morte ?
Claro que há, em cada greve de fome características diferentes, motivações diversas. Há a greve de fome por motivos políticos, ideológicos, religiosos, etc...
A moral tradicional equipara a greve de fome ao suicídio e portanto, inaceitável de forma absoluta.
Já a moral renovada, reflete este tema a partir de outra perspectiva - a do domínio do homem sobre a própria vida - e, por isso, não a condena de modo absoluto.
Problema especifico neste tema, é o do médico: deve este respeitar a autonomia do grevista de fome? Não deve o médico, em razão de sua profissão, salvar vidas?
Hoje, porém, a Associação Médica Mundial, desde a declaração de Malta (1991), orienta o médico para o respeito da autonomia do grevista e, assim, os novos códigos de ética médica vão adotando esta mesma postura, inclusive no Brasil.
O Poeta Carlos Drummond de Andrade, com fina ironia, escreveu certa vez:
“Jejuador nenhum morre de jejum
Se souber vender a sua greve”!


*Padre Professor Doutor. Leciona no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP), em Brodowski - SP

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